O louvor a maternidade e o silenciamento de filhas (os) abusados

“Mãe, eu posso ir embora? Eu consegui 100 reais vendendo as balas, tem 50 para senhora e 50 para vó, tá chovendo e eu to com frio”.

(Menino desconhecido na vila madalena)

 

Certa vez ouvi uma música do Facção central e imediatamente eu pensei “Que horror! Como Eduardo e Dundum escrevem uma música machista destas, acusando as mães de uma coisa tão horrorosa”, a música chama-se “Eu não pedi para nascer”:

“Minha mão pequena bate no vidro do carro/ No braço se destacam as queimaduras de cigarro/ A chuva forte ensopa a camisa o short/ Qualquer dia a pneumonia me faz tossir até a morte/Uma moeda, um passe me livra do inferno, Me faz chegar em casa e não apanhar de fio de ferro/ O meu playground não tem balança, escorregador/ Só mãe vadia perguntando quanto você ganhou”.

O menino desconhecido da Vila Madalena me deixou assustada, a mãe da música do Eduardo e Dundum existia, ela não era uma vadia, mas era uma manifestação da perversão da maternidade. Obviamente que podemos colocar aqui a ideia de que a própria foi criada sem amor, na pobreza, submetida a vícios e violências… Mas ainda assim, desmantela o mito do tal “amor materno”. E não, esta não é apenas uma “mãe” degenerada e anonima entre tantas outras tratando o filho com perversidade, existem muitas por ai, elas exercem o poder outorgado a elas em função da maternidade para destruir as possibilidade de evolução da criança em sua posse.

Mas por que eu fiquei assustada? Oras eu também fui criada para acreditar que as mães são seres celestiais que dariam a vida por seus filhos. Eu estava errada. Apesar de sempre ter sido constatado um estranhamento da minha parte toda vez que aparecia a “treta mãe de pets x mãe de humano”, eu tentava entender por quê,  não era por que eu não entendia as especificidades de uma mãe e uma tutora, mas por causa do louvor a mãe como se ela fosse um ser celestial e intocável. Era algo muito bem guardado dentro da minha mente o por quê eu renegar este papel nas mães. Eu sempre saia destas discussões sentindo me não vencida, mas mal compreendida.

Este tipo de defesa da maternidade como se fosse algo intocável faz com muitas crianças, adolescentes, adultos, idosos… calem-se sobre a relação tóxica e abusiva vivida com suas mães, submetam-se a vida toda a desmandos, perversidades e violências verbais ou físicas.

Obviamente que dentro do feminismo, que é um movimento que luta pela libertação da mulher, deve existir pautas para que as mulheres possam exercer poder sobre seus direitos reprodutivos, tendo ou não filhos, e se tiver filhos, que tenham direito a maternidade plena. Mas a “maternidade” é algo construído socialmente, o louvor a maternidade é construído socialmente e normalmente é usado como forma de aprisionar a mulher a papel de cuidadora dos filhos dos homens. Muitas mulheres que queriam ser mães, acabam tendo filhos, para saciar a sociedade que espera isso dela, para não romper com a igreja que diz “não aborte”, para satisfazer o marido, as famílias, para satisfazer o mundo, menos a si mesma. Da pressão social e maternidade compulsória muitas mulheres tem filhos e não tornam-se mães. Ter um filho não faz de uma mulher mãe.

A mãe como tutora da criança que gerou deveria construir um vínculo afetivo com seu filho (a), construir um campo de proteção que esteja preparado para receber seu filho (a) quando este buscar acolhimento, é papel dos tutores da criança encaminhá-la na vida pelas melhores oportunidade, participar ativamente em sua formação emocional e intelectual.

Vivemos em uma sociedade que é comum sabermos casos de crianças espancadas, castigadas desumanamente, prostituídas, violentadas emocionalmente e por isso com dificuldades de desenvolver se intelectualmente. Nestes lares a maternidade pode ser louvada também? Não trata-se de uma exceção, é real, é mais comum do que pensamos.

Algo que até bem pouco tempo era muito bem aceito, a tal da palmada educativa que no interior dos lares e sobre segredo da família tornavam-se surras corretivas, espancamento que geravam hematomas, membros quebrados, traumas, medo etc. tudo o que era necessário para criar crianças ansiosas, depressivas, agressivas. rebeldes etc. Patologias que agindo sobre sua personalidade, ainda abria prerrogativa e consentimento social para que os país fossem ainda mais repressivos e violentos.

Onde eu quero chegar?

Em psicologia existe um termo para designar um tipo de relação entre mãe e filha que extremante tóxico: Filhas de mães narcisistas. [1]

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Vi este tipo de coisa acontecer a vida toda e não sabia nomear, e talvez não quisesse nomear por que a ideia de “mãe é mãe” estava ali alienando meu cérebro moldado para repetições de conceitos sociais aprendidos e inculcados ali, mas enfim, o que importa é que vi casos passando na minha cara e eu sempre achava que era culpa da filha, por que “uma flha que não gostava da própria mãe, ora bolas, só poderia ser ela que não prestava.” A tal da “Ovelha negra da familia”.

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Casos:

  1. Priscila : Eram dois irmãos que viviam sobre a guarda de uma mãe narcisista, tirana e controladora, a mãe, além de controlar a vida dos filhos, ao menor escape ela “fazia-se de louca” e retomava o controle. Por exemplo, Priscila de uns 24 anos na época, namorava um rapaz contra a vontade da mãe, ela ia e voltava com este namorado que já não aguentava mais as intromissões da mãe, um certo dia, ele foi até a casa de Priscila conversar e saiu de lá expulso pela mãe dela com um cabo de vassoura. Priscila chorava, xingava a mãe de bruxa, dizia que ela queria destruir sua vida. Quem ouvisse apenas as reclamações da filha e xingamentos contra a mãe diria que ela é uma “Filha desnaturada” e ela seria facilmente tratada como louca.
  2. Vanessa: A mãe de vanessa era extremamente autoritária e controlador a e como a mãe de Priscila, trabalhava incessantemente para destruir a vida afetiva da filha e qualquer tipo de avanço profissional, a mãe chegava a ir em seu local de trabalho brigar com ela, fazia escândalos, a mãe conversava com as chefias de Vanessa, deteriorando com suas descrições da filha, a confianças dos contratantes por que, “se até a mãe fala mal da filha, é por que ela não presta mesmo”. Por diversas vezes ela foi demitida depois da intervenção da mãe. A ciência de que ninguém acreditaria na verdade que ela tinha a dizer, passou a beber até tornar-se uma alcoólatra.
  3. Rodolfo e Marcelo: Eram irmãos de Priscila. A mãe passou a vida colocando um filho contra o outro, o terceiro filho, Marcelo, conseguiu libertar – se da mãe, a vida dele fluiu, conseguiu estabecer – se financeiramente, comprou seu apartamento, estava bem empregado, vivendo uma vida quase sadia, se não fosse a inimizade entre ele e o irmão, uma rivalidade instigada pela mãe e as investidas da mãe sempre que possível para envergonhá-lo frente a amigos e namoradas. Todas esta histórias são longas e cheia de detalhes peversos, mas o final delas são altamente tristes, o final desta se deu com a Mãe indo morar com Rodolfo bem longe de Marcelo, em outro estado, Rodolfo em depressão profunda, abandou a vida, vive sem viver. Marcelo segue sia vida da melhor forma possivel pois o distanciamento o beneficiou.

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No livro: O complexo de Cassandra: Histeria, descrédito e o resgate da intuição feminina no mundo moderno, este assunto é bastante abordado.O livro nos fala sobre um evento narrrado na mitologia grega, quando o Deus Apolo se apaixonou por Cassandra, filha do rei de Troia, e a ela prometeu o dom da profecia. Quando ela se recusou a ser seduzida, Apolo, por vingança, amaldiçoou-a para que ninguém acreditasse em suas profecias. E assim se estabelece a tragédia arquetípica de todas as mulheres oprimidas num mundo patriarcal: sua sabedoria e intuição são desacreditadas, chegando ao ponto de questionarem suas próprias percepções.  E desta forma, a situação de vivenciada pela filha da mãe narcisista entra neste combro de opressões que as mulheres são submetidas, já que as percepções da filhas a respeito do abuso são desmentidas pela sociedade que erigiu em altar a santa mãe.

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Esses são apenas alguns exemplo, obviamente existem milhares que podem ser contados aqui, o que interessa dizer é que desenvolver se como ser humano na presença de uma mãe egoista, egocêntrica e muitas vezes com a presença de um pai permissivo que torna-se um facilitador do narcisismo da mãe, forma um  pessoa que em fase adulta desconhecerá o sentido de autoconfiança e realização, assim como austoestima estará em nível não detectável, facilitando a entrada, especialmente de mulheres em relacionamentos abusivos com parceiros intimos. Quem cresce acreditando que abuso é amor, aceita com facilidade relacionamentos abusivos com parceiros intimos.

Não existe maternidade perfeita, e também não existe um ser mãe como se uma entidade nos possuisse a nós mulheres no momento do momento que estamos gestando um filho até o sempre eternamente. As mulheres são oprimidas mas, também podem ser opressoras. Tomemos partido de todos os oprimidos, mesmo que a opressora seja uma mãe.

 

 

Bibligrafia:

  1. Filhas de mães narcisistas <https://filhasdemaesnarcisistas.com.br/perfil-da-mae-narcisista/&gt; Acessado em: 06/02/2019
  2. O complexo de Cassandra: Histeria, descrédito, e o resgate da intuição femina no mundo moderno: Schapira Layton, Laurie. – 2. ed. São Paulo: Cutrix, 2018.
  3. Filhas de mães narcisistas, conhecimento e cura. Engelke Michele. Livro virtual.

 

 

 

 

 

 

 

#ELENÃO! O Feminismo Brasileiro é Antifascista

As mulheres tem mostrado desde há muitas décadas atrás, a força que possuem quando organizadas politicamente. Seja pelo movimento sufragista, até o feminismo negro interseccional que ao se emanciparem das demandas do movimento feminista e negro, este último que era masculinizado e que as apagavam.
O movimento feminista nunca se resumiu apenas há uma única reivindicação, palavra ou hashtag. As mulheres saíram e saem as ruas reunidas pela certeza de que sua união possui potencial de organização gigantesco.

Mostramos que a movimentação na internet causa impactos reais, quando num grupo no Facebook, contra um candidato racista, misógino e LGBTfobico, ao qual conhecemos bem… Reunimos em poucos dias, 2 milhões de mulheres para mostrar que: Ele não, ele nunca!
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Mas a movimentação não parou na Internet, pois no dia 29 de setembro milhões de pessoas se juntaram às mulheres em todo o país para gritar que não aceitaremos o fascismo renascendo latente no cenário político, afetando os nossos direitos jurídicos, empíricos, políticos e de mercado. Que a nossa livre expressão política não pode ser ameaçada nesse momento histórico, porque é inaceitável o retrocesso.

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Ato em Salvador. reprodução: Facebook.

Outro fator relevante é o fato de que a região Nordeste é a única em que o candidato fascista não chega ao segundo turno. A partir disso, conseguimos conceber que os indivíduos se movimentam coletivamente a partir do que entendem e vivenciam. Vivenciamos séculos de voto de cabresto, a Bahia ainda não se livrou do coronelismo Carlista que ameaçou e assassinou milhares de jovens negros em nome da política assassina de guerra às drogas na década de 90. O Nordeste não consegue mais aceitar a volta dos anos de chumbo ao qual mal conseguiram sair.

Não há dúvidas de que partirá das mulheres, da população negra e nordestina, as movimentações que sacudirão as bases políticas conservadoras desse país. O movimento de mulheres é antifascista e não aceitará menos que o avanço dos direitos femininos em todos os âmbitos sociais. É preciso mais do que segurar o que já temos, é preciso avançar, e para tanto, já provamos que somos capazes.

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reprodução: Facebook

Não aceito mais as coisas que não posso mudar, estou mudando as coisas que não posso aceitar.
Angela Davis

Sobrevivi a um relacionamento abusivo

Existe mais de um milhão de processos sobre violência doméstica no Brasil. Isso porque nem todas as mulheres registram queixa contra o abusasor, que na maioria dos casos é o próprio cônjuge ou companheiro. Eu sou uma sobrevivente de um relacionamento abusivo com violência doméstica e psicológica, deixei de ser um número nas estatísticas de Feminicídio no Brasil e vou contar como tudo aconteceu e o que precisei fazer para sobreviver e superar.

Adianto que esse relato contém violência doméstica, violência sexual e pode não ser legal para quem tem gatilho em relação a isso.

Eu tinha apenas 20 anos quando me envolvi com meu abusador, para evitar maiores problemas vou usar um nome fictício, aqui ele se chamará Antônio.

Antônio era um jovem religioso, extremamente carinhoso e romântico, trazia sempre presentes, ligava todos os dias e em pouco tempo de namoro marcou a data do casamento. Mesmo eu não me sentindo preparada e isso não estando nos meus planos, eu aceitei, porque senti uma pressão enorme do pastor da Igreja, dos membros e irmaos que diziam que mulher de “Deus” tem que casar rápido para não pecar. Antônio dava muitos sinais de ser um homem abusivo mas eu, em minha inocência, acreditava que era excesso de cuidado e amor. Foi depois de muita dor que descobri que ciúme possessivo não é amor. Antônio controlava meus horários, todos os meus passos, quando eu saía e voltava de casa. Casamos. A partir daí não restava dúvidas de que aquele controle não era proteção, era desejo de posse. Eu não podia mais ver nenhuma amiga, todas eram má influência. Não podia sequer ir sozinha na casa da minha mãe. Não podia pegar um engarrafamento no trânsito ao voltar do trabalho, tive que abrir mão da faculdade, de oportunidade de emprego que me pagaria um salário maior do que o dele, era obrigada a ir na igreja que a mãe dele frequentava, definia minha roupa, corte e cor do cabelo. Todo dia quando chegava do trabalho, era obrigada a passar por uma “inspeção” em que Antônio cheirava todo o meu corpo me ofendendo e difamando, me obrigava a retirar a roupa e deixar ele farejar minha roupa íntima pra conferir se tinha algo que ele julgasse suspeito. Ate que certa vez a violência antes apenas verval, passou a ser física, não era necessário nenhum evento para “justificar” bastava ele está irritado para descontar em mim. Após várias agressões psicológicas onde ele me obrigava a responder um questionário sobre quantos homens eu já havia beijado, se ja o havia traído ou pensado em trair, começava a dizer como eu era feia, como meu cabelo crespo estava na hora de retocar o alisamento, que meu corpo parecia uma “tábua”, que eu nunca encontraria outra pessoa que se interessaria por mim. Era uma tortura sem fim, que terminava com ele me obrigando a fazer sexo, me violentando sem nenhuma piedade, me fazendo acreditar que eu era obrigada a realizar seus desejos pois era posse dele, objeto dele. É importante contar que após cada agressão ele aparecia mais doce e arrependido, o que me fazia sempre perdoar.

Depois de muitas humilhações resolvi conversar com a família dele, que me culpava, afinal eu era “atraente” e dava motivo para ele ter ciúmes. Um dia ele chegou embriagado, me violentou com as mãos no meu pescoço, tentou me sufocar. Eu percebi que precisava tomar uma atitude. Ele fez questão de avisar:  “um dia vou te matar”

Era hora de procurar ajuda, fui até o pastor, que me mandou orar e aceitar porque se eu me separasse iria ser condenada ao inferno. “Existe inferno pior que esse?” Foi o que pensei.

Eu juntei algum dinheiro, as roupas mais usadas numa bolsa e fugi. A princípio pensei em morar sozinha, mas temi que ele cumprisse a promessa, então resolvi contar pra minha família que, pra minha sorte, me acolheu. Não foi nada facil, ouvia das pessoas que eu tinha que dar uma chance pro meu casamento, que era horrível ser uma mulher de 23 anos e divorciada. Que a partir dali eu seria vista apenas como uma mulher separada, que nenhum homem me levaria a sério. Mas não me importei, só queria sobreviver, não queria ser notícia na capa de um jornal  por ser mais uma vítima de um crime “passional” (Feminicídio).

Sofri muito preconceito dentro da religião fundamentalista, uma mulher divorciada para alguns é como ser uma criminosa, o crime de querer se libertar das correntes patriarcais da submissão, do silenciamento em que muitas mulheres se encontram. Até hoje tenho pesadelos, medo, a sombra do relacionamento abusivo atormenta por anos, mas sobrevivi e tenho forças para lutar por mim, pela minha filha recém nascida e por tantas outras mulheres que cruzam meu caminho.

Eu criei coragem de abrir essa ferida e relatar aqui porque quero encorajar outras Mulheres a saírem dessa situação. Eu sei como é difícil reconhecer que estamos num relacionamento abusivo e quando nos damos conta já estamos sofrendo agressões. Mulher, observe essa pessoa que está do seu lado, você não é objeto, não é posse de ninguém, não espere ser tarde. Não seja parte das tristes estatísticas. É difícil, eu sei, mas você pode!

Por Cristiana Cardoso 2afae178be530b221babbe1d371b9115~2.jpg

Observação: Imagem retirada de campanha contra violência doméstica

 

A politica de cartas marcadas

Estamos mais uma vez em época de eleição, um momento em que somos levados a acreditar que podemos escolher, mas não podemos. Para garantir que apenas os partidos que já estão no jogo, mantenham se no jogo, foi votada e agora aplicada a Clausula de Barreiras, chamada também Clausula da exclusão, um mecanismo completamente anticonstitucional que tem a intenção de dificultar ao máximo que propostas de partidos pequenos cheguem ao público eleitor.

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Se levarmos em conta que quem votou a clausula de barreiras forma partidos com mais representatividade nacional, chegamos rápido a conclusão que esta votação foi um golpe contra partidos menores, tirando os do páreo, sobra muito mais tempos para eles, em horário nobre, contarem suas mentiras e manipularem eleitores menos instruídos.

Atualmente no programa eleitoral gratuito temos alguns partidos que precisam expressar-se em segundos e sabemos que em segundos não é possível explicar um programa de governo, isso acontece por que este dispositivo traz além de restrições para partidos com menos de 5% dos votos nacionais, a perca de recursos do fundo partidário e tempo restrito de propaganda eleitoral em rede nacional de rádio e de TV.

Para José Maria, metalúrgico e presidente nacional do PSTU

As empresas que são donas das redes de TV privilegiam estes grandes partidos apresentando apenas os candidatos deles nos noticiários. Estas duas coisas somadas constituem um ataque não apenas aos direitos dos partidos ideológicos, dos partidos socialistas, de levarem ao conhecimento da população suas candidaturas e propostas, trata-se de um ataque ao direito democrático dos eleitores de conhecerem todas as candidaturas e propostas existentes para, então, escolher soberanamente a que mais lhe agrada.”

O que a Clausula de Barreiras fez foi concentrar a representação política nas mãos dos de partidos que estão há anos no poder e que são os mesmo que protagonizam a degradação política e moral que como novela é exibido nos telejornais, cada dia um capitulo pior que o outro.  Saem da representação partidos que tem em seu interior uma grande concentração de pessoas dos grupos oprimidos, que lutam pelos direitos humanos e por uma sociedade igualitária. Entre eles PSTU, PCO, PCB e outros.

A Clausula de Barreira obriga partidos menores, se desejarem participação no processo eleitoral, fazendo uso dos mesmos mecanismos que tem direito os partidos maiores, a fazer aliança com eles, isso significaria rasgar o programa do partido que se aliança e submeter – se ao programa do partido maior apenas para estar no jogo. Mas, eleições não deveriam ser um jogo, muito menos de cartas marcadas, deveria-ser um momento de intensa movimentação social, onde toda população fosse chamada a participar ativamente do mesmo, mas a única coisa que nos é permitido e assistir as propostas e no dia da eleição, dar nosso voto ao menos pior, decidindo entre uma queda do terceiro andar de um prédio e o décimo.

Mesmo com esta condição de ter que rebaixar ou rasgar o próprio programa partidário para defender um outro programa, alguns partidos como PCB entenderam que era melhor um programa rebaixado e reformista do que manter sua ideologia, outros como PSTU não se venderam para outros partidos e não aceitaram rebaixar seu programa que é destinado a construção de uma sociedade sem classes, humanizada e sem opressões.

O PSTU é hoje um dos partidos que mais tem mulher em sua militância e legenda. A presidenciável é Vera Lucia, ela é a representante nas eleições do programa do partido, ela é mulher e negra, assim como muita militantes desta organização, ela é voz de minorias e tem o melhor programa contra tudo que nos tem atacado, tudo que tem nos matado, criminalizado …Mas ela não pode falar. Como toda voz de minorias, está calada nas redes televisivas, enquanto isso, a maioria das pessoas cai naquilo que parece mais um furor coletivo, onde todos movidos por medo acabam caindo no jogo de sempre: Votar no menos pior. Eleger Haddad para que Bolsonaro não ganhe, mas e se Alckmin for com Bolsonaro para o segundo turno?  Qual é o menos pior? Temos ali um fascista provado por sua atuação no governo e um outro fascista que ainda espera sua vez.  O tombo fica cada vez mais parecido e os ferimentos cada vez mais grave, seja qual opção for, do nono ou do décimo andar do prédio, nos dois casos, sairemos muitos feridos e quem sabe mortos.

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Por que não ouvir as propostas de uma candidata mulher, negra e da classe trabalhadora? Por que não eleger uma mulher com um programa que realmente nos atender? Por que não movimentar a política e dar a chance para a novidade e sair deste círculo vicioso de toda eleição? Se nós não apontarmos para esquerda e para candidatos que estão experimentados na luta de classes e desejam transformar nosso sociedade para uma sociedade igualitária, estaremos sempre à mercê das mesmas figuras públicas que não nos representam. Já é hora de construirmos uma ponte para novos candidatos e entendermos que não adianta votar em pessoas sem levar em consideração o programa do partido, afinal, de nada adiantar prometer se o programa do partido a impedirá de seguir, tal como alianças controversas entre esquerda e direita que vemos cotidianamente no cenário político.

Pensem!

Mães abusivas, você tem uma?

Foram mais de 3 décadas vivendo e tentando ser a filha que ela poderia amar, mas eu teria que abrir mão de muitas coisas para ser esta filha, eu teria que abrir mão das minhas crenças, da minha religião, da minha convicção política, de pessoas que ela desaprovasse, eu teria que obedecer, temer perde-la, temer ser excluída e por isso me submeter. Eu não seria quem sou, seria quem ela queria que eu fosse, e eu optei por ser eu mesma.

Minha experiência com uma mãe narcisista.

PAIS-ABUSADORES

Eu não entendia qual era o motivo, mas eu deveria deixar de tratar bem o meu pai para provar que a amava; Era difícil por que ele me tratava bem, ele chegava a noite cansado com macacão de mecânico cheio de graxa, tomava um banho e jantava, jogávamos dominó, damas, ele fazia “serra, serra, serrador…” Coisas que me fazem ter boas lembranças dele… Ela me chamava de “puxa saco do seu pai”.

Ela fazia a gente escrever cartas para nosso pai, cobrando ele de situações que nós nem sabíamos direito do que se tratava. Ele fazia muitas coisas erradas, mas eu não entendia as coisas erradas que ele fazia, entendia apenas que era muito errado, ela tinha muita mágoa dele.

Ele começou a ficar cada vez menos em casa “ele gosta mais do PT do que de vocês”. Depois de um tempo eu esperava ele chegar e ele não viria mais, senão tão tarde que eu não aguentava e caia no sono.

Dormia com ela, e ela me dizia quase toda noite que eu era muito desobediente e que se eu não a obedecesse ela ia embora e levaria apenas os meus irmãos. Eu ficava aterrorizada. Ela me dizia que eu era muito parecida com meu pai, como se parecer com ele fosse algo horrível, e cada vez mais eu me afastava do meu pai, por que eu não queria parecer ele, e eu queria que ela me aceitasse.

Durante toda infância e adolescência ela me espancava, ela colhia de um terreno perto de casa uma vara, de preferência com pontas, sabe quando você arranca as folhas e fica uma ponta? Então, ela queria que doesse muito. Tantas vezes tive que usar roupas de manga cumprida para esconder os vergões. Ela não batia nos meus irmãos. Eu me sentia envergonhada, triste, e quanto mais triste e envergonhada mais revoltada e rebelde.

Engordei muito no período da adolescência, sempre fui gorda, mas na adolescência eu me odiava, e entrei em depressão quando ela me disse que tinha vergonha de ter uma filha gorda. Ela dizia a outras pessoas, sempre perto de mim que meu irmão tinha um “corpinho” lindo, ele fazia natação e se cuidava. Eu me sentia feia, eu construía uma auto ódio ainda maior por que ela não me achava bonita.

Ela fazia intriga entre eu e meu irmão do meio, estimulava a competição entre nós, especialmente quando ela dizia que preferia ele a mim. Isso doía muito e eu vivia tentando ser alguém que pelo menos ela amasse um pouco, já que eu não era a preferida.

Ela nunca ficava do meu lado quando eu e meu irmão brigávamos, ela nunca fez a gente entender que não deveríamos, ela dava razão a ele, mesmo que ele tivesse me espancado, e ele me batia muito, ele era autoritário comigo, me tratava como se eu lhe devesse obediência, e quando eu não obedecia, apanhava. Ela achava que estava tudo certo.

O dois filhos homens eram filhos de ouro e eu não era nada, era a filha problemática, a filha com personalidade difícil, a filha desnaturada…

Ela arrumava brigas, destas brigas ela fazia um verdadeiro inferno, contava o lado dela da história onde ela era sempre vitima desta filha desgraçada e jogava a família toda contra mim, numa tentativa de me fazer submissa e submetida a ela, já que todos achavam que eu estava errada e ela certa. Os mecanismos de opressão são muito parecidos, não é? Colocar todo mundo contra você para que você seja a louca da história e ninguém acredite em você.

Tive que sair de casa cedo para me livrar da perseguição dela… Ela tentava deliberadamente me enlouquecer, era o tempo todo jogando a família toda contra mim só por que eu não era a filha obediente que aceitava tudo que ela falava.  Cada vez fui me isolando mais da família, deixando para lá, deixando de me sentir parte daquilo. O grande triunfo dela era que ela poderia manipular a família e me excluir, então eu fui me desligando aos poucos para não sofrer mais com esta exclusão e pessoas que eu amava, mas que aceitava a manipulação dela, foram deixando de ser amadas, foram esquecidas, guardadas em lugares obscuros do meu cérebro para não tocarem com lembranças meu coração.

Ela tinha razão quanto a meu pai, eu era e sou muito parecida com ele. Me orgulho disso. A militância dele na esquerda deixou uma herança para mim. E quanto mais parecida com meu pai, mais ela me desprezava. Minha militância na esquerda era vista com deboche, minhas ideias também, nada em mim era bom. Eu era a filha muito inteligente que não sabia usar a minha inteligência, para ela, saber usar a inteligência era ganhar dinheiro.

Eu me formei em 2009. Paguei meu curso sozinha. Foram 4 anos de muita dedicação. Eu tive que implorar para ela ir na minha formatura.

Na época do meu casamento, eu estava feliz, ela arrumou uma briga comigo, nem me lembro o motivo, mas sempre eram coisas pequenas que ela transformava em uma verdadeira tempestade. Ela jogou todo mundo contra mim, disse que não ia no meu casamento, e disse que meus irmãos também não iriam, ela conseguiu transformar meu momento num pesadelo e me fazer pedir, implorar para ela ir. Ela foi e lá, mesmo ouvindo ser chamada para tirar fotos, não foi, quando fui questioná-la por que não foi, ela se fez de ofendida e retirou-se levando meus irmãos e cunhadas, sobrinhos, junto com ela. Ela estragou a minha festa.

Ela nunca aprovava meus namorados, e toda vez que eu dizia que estava me relacionando com alguém, ela perguntava “é preto de novo”? Ela colocava apelidos nos meus namorados, ela desqualificava-os mesmo antes deles mostrarem-se machistas ou abusivos.

Ela falava mal de mim para minhas amigas, durante a visita de uma amiga a minha casa, estando minha mãe presente também, ela chamou minha amiga de canto, nas minhas costas e disse que “Ela é louca, ela passou da hora de nascer e faltou oxigênio no cérebro dela”, eu descobri isso da pior forma, durante uma discussão com a amiga, ela me disse “até sua mãe fala de você”, como se minha mãe falar fosse atestado de verdade, atestado de que eu era realmente louca. Eu fiquei profundamente magoada, com minha mãe e com a amiga.

Depois que minha mãe descobriu que eu estava fazendo tratamento psiquiátrico, qualquer discussão comigo ela me chamava de louca e perguntava se eu tinha tomados meus remédios.

Estive doente e internada 3 vezes por causa de uma pancreatite, minha mãe foi me visitar apenas uma vez. Dependi muito mais das minhas amigas do que da minha família para me recuperar, exceto pelo meu irmão mais velho e meu sobrinho mais velho, um tio que foi me visitar, apenas. Nesta experiência eu fui entendendo cada vez mais que, eu não só não era importante para aquela família, como não deveria contar com eles. Duas ou mais vezes, ao receber alta, paguei taxi e sai sozinha do hospital para casa. Cada vez mais sozinha, fui formando laços com outras pessoas, outras mulheres, amigas que são hoje a família que eu escolhi e que me escolheu, isso me fortaleceu muito. Seu fosse tão desgraçada assim, por que seria amada por outras pessoas?

Minha mãe tinha acesso a minha casa, ela tinha minhas chaves, entrava e saia quando queria, minha casa era como se fosse um cômodo da casa dela. Dei as chaves a ela quando fiquei doente, para ela me ajudar e depois me sentia péssima em tirar dela. Quando iam pessoas na minha casa, eu tinha que pedir para ela não ir lá, por que as vezes ela aparecia do nada, me sentia podada da minha intimidade e liberdade, um dia ela me perguntou: “Por que eu não posso ir lá? Vocês vão fazer sexo?” Foi um dia que eu recebi umas amigas e meu ex-namorado estava lá, minha cara caiu no chão como a pergunta dela. Ela me constrangia com as perguntas dela.

Quando eu recebia amigas a noite e a gente, mesmo com música ambiente, emitia sons de risada, ela ligava no meu celular berrando “Até que horas vai esta putaria ai”, um bando de amigas se divertindo era uma “putaria”. Ela sempre usava palavras de baixo calão comigo, mandava eu me foder e coisas do tipo, palavras que ela nunca usaria com meus irmãos.

Ela ouvia atrás das portas da minha casa, atrás do muro e depois me perguntava sobre assuntos íntimos e particulares que eu estava conversando com alguma amiga ou namorado, eu ficava sem saber o que fazer, eram assuntos que eu não queria comentar…

Quanto mais idosa ela foi ficando pior pra mim, por que ela agora era além de mãe, uma senhora idosa. Quem iria dar razão a uma filha que se desentende com a mãe idosa? Eu fazia de tudo para não ter desentendimento, eu ouvia coisa e deixava passar, eu passava por cima, como passei por cima da situação em que ela disse a minha amiga que eu era louca por que passei da hora de nascer e faltou oxigênio no meu cérebro, cheguei a perguntar a ela se era havia dito isso e ela inverteu a situação dizendo que nunca havia dito aquilo, que está amiga queria jogar a gente uma contra a outra, que era um absurdo, que ela era louca… Mas, ela disse sim, eu nunca havia contado para amiga que nasci pós termo, só ela poderia ter dito isso.

Há alguns anos estava traçando planos para mudar me da minha casa, aliás casa que eu adoro, para sair do lado da casa dela, somos vizinhas de muro, queria apenas sair dali, sem brigas, sem ela nem saber por que, mas um dia estava desabafando com uma amiga no telefone, dizia a ela que queria sair dali por que não aguentava mais minha mãe me tratando com se eu fosse uma criança, reclamei que ela não me respeitava, que ela falava palavras de baixo calão para mim e eu não aguentava mais isso. Minha mãe entrou no quintal pé por pé e ouviu atrás da porta da conversa e depois me confrontou.

Naquele momento ela admitiu que estava errada, que realmente me tratava como se fosse criança e que ia mudar isso. Ela mudou durante um tempo, ficamos bem, mas como sempre nunca durava muito, o ciclo de lua de mel e tensões não acontece apenas com entre casais, mas dentro de qualquer relação afetiva.

O Estopim da última discussão foi ela mandar eu me foder, sem nenhum motivo para isso. Eu havia a chamado do meu quintal para saber alguma coisa, como ela não respondeu, achei que havia saído e fui para dentro de casa, sentei e comecei a atender uma cliente. Ela aparece no portão e grita “Você estava me chamando?” Respondi “sim, mas a senhora não respondeu…” Ela disse “Fala logo o que você quer, senão eu vou embora”. Eu ali entre a cliente e ela (e ela sabe que eu atendo clientes em casa por videoconferência), sem saber quem responder disse “Vai mãe, depois te falo”, ela disse “ah vai se foder”.

Terminei de atender a cliente e fui na casa dela e perguntei “Mãe, por que senhora mandou eu me foder?”. Ela imediatamente armou-se um escândalo, dizendo que falou por falar. Mas não é verdade, por que se fosse um hábito dela, ela falaria isso para meus irmãos e ela não fala. Eu disse a ela que estava cansada disso, que não queria ser tratada daquele jeito, ela gargalhou na minha cara, e então eu disse que não dava mais, que a gente não poderia ser amigas. Ela começou a me ofender de todas formas, disse que eu era uma filha maldita, uma desgraçada, que era para eu esquecer que ela era minha mãe, tudo isso para não reconhecer que estava errada. Provavelmente ela nunca vai contar para meus irmãos como ela me trata, ela deve apenas dizer que ela cuida de mim e eu brigo com ela sem motivo. Logo eu sou mesmo uma filha desnaturada. Mas, também não me importa mais a opinião dos meus irmãos sobre esta situação. O que me importa é que me libertei.

A libertação do ciclo do relacionamento abusivo só acontece quando a gente se fortalece e para ter força é preciso reconhecer-se em um relacionamento tóxico, este é o primeiro passo. Quando este relacionamento tóxico é com a figura materna, a libertação pode ser a mais demorada, afinal, toda santificação que a sociedade faz do papel da mãe nos leva a crer que, somos nós mesmas sempre erradas e precisamos melhorar para sermos amadas, e cada migalha de amor que cai sobre nosso chão, sentimos nos compensadas e por isso passamos muito tempo tentando e tentando… começa ai nossa saga para lutar diariamente para sermos amadas, a naturalização desta situação nos faz levar este aprendizado para os relacionamentos afetivos vindouros, onde somos massacradas por nossos companheiros, mas ainda assim nos sentimos culpadas e obrigadas a seguir tentando conquistar o amor e sermos amadas. O machismo cria a santificação da mãe, o machismo apoia a continuidade disso nas relações entre homens e mulheres.

 

 

Atores negros não são contratados para papel de elite.

As empresas que operam as redes de televisão são cínicas e racistas, elas tem concessão do governo para manter seus canais, e o governo ciente das práticas racistas dos empresários e funcionários de alto escalão, como os diretores de novela, por exemplo que insistem em escalar pessoas negras, para papéis que são “papéis de negros”, ou seja empregadas domésticas, mulheres de comunidades carentes, escravos… papéis subalternos.

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Hoje li a entrevista de um ator negro, Ícaro Silva, reclamando da escassez de papéis para negros, ele disse também que já foi dito a ele que por ser bonito não poderia fazer papel de escravo, fica ai a nota mental, para fazer papel de escravo precisa ser feio, ok? E sendo “um negro bonito”  se o papel for de galã, o ator feio e branco da vez, ocupará este papel.

Esta reclamação aparece logo quando estamos com a novela, Segundo Sol, ambientada na Bahia, lugar onde majoritariamente a população é negra, e no elenco escalado há uma quantidade de negros que se pode contar nos dedos: Roberta Rodrigues, dona de casa, Fabrício Boliveira, gigolô, Claudi Di Moura, mãe de Roberval, empregada doméstica que vive uma situação de síndrome de Estocolmo com seu patrão branco e rico.

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O papel de Zefa daria um enorme de um debate, poderia ser muito rico, mas a diretora e o escritor, retrógrados e racistas, apenas pendem para deixa-la no local comum, sem apresentar a situação de racismo da qual ela foi e é vítima; Danilo Ferreira que é um capoeirista sem muita importância na trama, e namora a mocinha branca e sofredora, cheia de problemas emocionais e vícios.

Para legitimar a presença de negros na novela SIM, aparece Fabíola Nascimento, a Cacau, com o cabelo trabalhado no permanente Afro. Apontam também a Nanda Costa e Roberto Bomtempo e dizem que “São negros sim”, e quem sou para dizer que não são, se eles se autodeclaram negros, eles são, não sou dada a colorismo, mas o fato é que, retintos mesmo contamos nos dedos.

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Os atores que são empregados do Roberval eu sequer encontrei o nome deles, se alguém puder me dar um help, agradeço.

Dizer que o que dá representatividade é o fato de que o ator negro está na trama central é muito cinismo, afinal, Roberval é um cara rancoroso, vingativo, que quer destruir a família branca que não o assumiu com filho por ser negro. Além de ter conseguido enriquecer tendo como fatos os seguintes: Submeter – se a fetichização racista da personagem de Adriana de Esteves, que deseja-o a primeira vista, obviamente por seus “dotes de negro”. Depois de usá-lo, imediatamente ela coloca em seu destino a situação de tornar-se um gigolô, após serem responsáveis pela morte de uma pobre viúva, branca e rica, ele vai embora do país, levando parte das jóias roubadas da mesma e retorna anos mais tarde rico, com uma grana que faz pensar, ganhada de forma ilícita, afinal negros, não podem chegar ao topo da classe social sem roubar. Na verdade, ninguém chega lá sem roubar ou explorar, mas o fato é que a Tv gosta de mostrar brancos chegando lá por merecimento e negros chegando lá de forma sórdida.

Roberval não é tratado como o homem negro vítima de racismo e que busca por justiça, ainda que de uma forma torta, ele é o vilão da novela a quem tudo é negado, quem sabe, até por merecimento aos olhos brancos que o condenam por traçar um plano de vingança, não é mesmo? A ele foi negado a mãe, que preferiu manter se escrava da família branca, servindo os com empregada, mesmo sem receber salário, Severo, mesmo escondendo uma fortuna, aceitou que seus empregados lhe “emprestassem os salários”, é um crápula. Pois é.

A ideologia racista se reforça quando as telenovelas, produto que é muito consumido pelas pessoas, especialmente as pobres e trabalhadoras, fortalecem que o lugar de negro é este: de subalternos e vilões.

Para os marxistas, é sempre importante considerar as diferenças (sempre complicadas) entre “ser racista” e reproduzir as ideologias que sustentam o racismo. No caso de escritores e diretores e novelas, assim como a emissora, trata-se de gente incluída numa classe que além de permitir raramente a presença de negros, beneficia – se do racismo. É muito provável que toda a elite do país tenham empregados negros para serviços domésticos. Dou um doce para quem for da elite que não apresente este elemento racial na composição de seu quadro de funcionários domésticos. Também se beneficiam, os escritores e diretores, que pasme, não me lembro de ter um negro ou negra, alguém me ajuda ai, se houver, me avisem.

Segundo o historiador marxista Eric Williams (em “Capitalismo e escravidão”, de 1944) o racismo tem uma origem de classe. Foram as elites dos anos 1500, e particularmente a burguesia desde então, que tentaram transformar “o aspecto físico dos [negros/as], seu cabelo, sua cor e dentição, suas características ‘subumanas’ tão alardeadas” em justificativas para o tráfico negreiro, a escravidão e todas as formas de superexploração impostas a negros e negras.

 Em suma, o racismo é, antes de tudo, uma ideologia disseminada pela classe dominante e sempre esteve a serviço de seus interesses e lucros. É a burguesia – empresários, banqueiros, latifundiários etc. e seus agentes nos governos, instituições e estruturas do Estado – que se utiliza das diferenças (de raça, gênero, orientação sexual etc.) para transformar diferenças em desigualdades e, desta forma, superexplorar setores inteiros da população.

A ideologia racista/burguesa foi e  continua a ser incutida e naturalizada na cabeça dos oprimidos, dos trabalhadores, dos pobres, dos explorados, dos marginalizados que a reproduzem muitas vezes mecanicamente, outras com a ilusão de que isto irá lhes garantir algum privilégio.

Por isso, uma de nossas principais tarefas, no que diz respeito à população em geral, tem a ver com o combate à consciência distorcida pelo sistema educacional eurocêntrico, os meios de comunicação, as igrejas, a família etc. etc.

Contudo, não acreditamos que seja correto colocar um sinal de igual entre a burguesia que utiliza de seu poder econômico e político para propagar ideologias que garantam seus interesses e aqueles ou aquelas que as reproduzem. E, mais um vez, não estamos falando, aqui, daqueles que fazem isto de forma consciente e em defesa de privilégios, sejam eles quais forem, da mesma forma que não vamos centrar a luta contra o machismo nas mães que incutem na cabeça das suas filhas histórias românticas como príncipes e princesas, por exemplo. Como também, não acusamos de racismo uma família negra pelo fato de que sua filha queira comemorar o aniversário vestida como a princesa Elsa (de “Frozen”), ao invés de receber os amiguinhos como a Rainha Nzinga. Isso não descarta, de forma alguma, a necessidade de que façamos um debate com estas pessoas, criticando-as com a convicção e a dureza necessárias. Mas não é nosso objetivo “destruí-las”. Queremos ganhá-la para nossa luta.

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Digo isso por que pode haver dentro do movimento quem critique pessoas negras por aceitarem papéis em novelas com gritante racismo, o fato é que estas pessoas não tem culpa de ocupar os poucos espaços reservados a elas, e por dentro da situação, também faz-se a luta, podendo manifestarem – se contra tal politica de contratação de negros que são minoritárias propositalmente, afinal, atores negros qualificados existem sim, mas o racismo não os deixa ter representatividade em papéis que foram feitos para brancos.

A mulher negra Latina e Caribenha

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O significado histórico do 25 de Julho
A partir de 1992, o Dia Internacional Latino-Americano e Caribenho da Mulher Negra passou a fazer parte do calendário de luta de negritude, resultado da realização do I Encontro de Mulheres Afro-Caribenhas ocorrido na República Dominicana. Apesar de recente, é um marco internacional importante de luta e resistência da mulher negra, pois tira do limbo a invisibilidade, a estigmatização, a indiferença e sub-humanidade a que foram submetidas.

Nesse sentido, essa data tem demandas represadas. São vários temas e ações que têm sido realizadas. As ações giram em torno da organização das mulheres negras; interesses e necessidades específicas; indicadores sociais de raça, gênero e classe; dificuldades de sobrevivência (social, econômica, política e cultural); divulgação da condição negra; diferenças com as mulheres não negras; história de luta, necessidade de trazer à tona mulheres negras que ajudaram a mudar a rota de sua coletividade; enfim, tirar da margem e colocar as mulheres negras no centro, a partir de sua voz. Esse é o propósito do 25 de julho que tem sido construído no Brasil.

No Brasil, a partir de 2014, o 25 de julho foi instituído como “Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra”. Tereza de Benguela chefiou o Quilombo de Quariterê, resistindo durante duas décadas. Ainda no mês de julho, no dia 31, comemora-se o “Dia da Mulher Africana”.

Da colonização aos dias de hoje: as desigualdades recaem sobre os ombros da mulher negra
Afastada de seu lugar de origem por conta do tráfico, a mulher negra, desde os tempos da escravidão, foi condicionada aos trabalhos pesados na lavoura, nas vendas em condição de escrava de ganho, como ama de leite, na prostituição. Foi sempre tratada de maneira desigual. Isso a distingue de outras mulheres.

O capitalismo a transformou em reprodutora do capital. Para isso, combina-se racismo e machismo, tirando-lhe sua humanidade e buscando reduzi-la a símbolo da escravidão e a objeto sexual. Naturalizaram-se estupros, abusos sexuais praticados pelos senhores de fazenda, foi negado o direito de escolha de seus parceiros, de cuidar de seus filhos. Buscou-se negar e até destruir suas experiências de organização política, formas de vida familiar e comunitária, bem como usou-se diversas estratégias para impossibilitar qualquer solidariedade entre seu povo. O tráfico e a escravidão foram dois dos crimes mais repugnante que o capitalismo.

Passados 129 anos da abolição, a mulher negra ainda vive na base da pirâmide social, representa a maior cota no trabalho doméstico, na terceirização, no trabalho informal e no trabalho temporário. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) do período de 2004 a 2014 constatam esse fato: 39,1% das mulheres negras ainda ocupavam postos precários, com renda de até dois salários mínimos, sem carteira assinada.

Só em 2009, existiam 7,2 milhões de brasileiros trabalhando em limpeza, cozinha e manutenção de casas e escritórios, sendo que 61,6% do total, ou seja, 4 milhões eram negros e negras. A taxa de desemprego em 2009 era de 12% entre mulheres negras, comparada a 9% para mulheres brancas. Comparativamente, em termos de escolaridade o Ipea, em 2011, apontava que a taxa de escolarização de mulheres brancas era de 23,8%, enquanto entre mulheres negras era de apenas 9%. Ou seja, os dados revelam que há hierarquia de gênero e raça.

Vale lembrar que com a recente aprovação da reforma trabalhista, a tendência é potencializar ainda mais a discriminação e tornar as mulheres negras mais vulneráveis frente aos patrões, ampliando a jornada de trabalho sem regulamentação de direitos, além de reforçar a ideia de que os trabalhos subalternizados cabe à mulher negra. Num país em que 39,8% das mulheres negras são chefiam suas famílias, segundo o IBGE (2014), e que há famílias inteiras em que a única renda é o benefício da Previdência, não é difícil imaginar quem mais será prejudicada com a reforma da Previdência.

As mulheres negras começam a trabalhar muito cedo e na informalidade. Diminuir o valor do benefício, colocando abaixo do salário mínimo, bem como dificultar a aposentadoria, aumentando a idade, é uma política de liquidação dos mais pobres. É a volta da lei dos sexagenários do período da escravidão. Muitos não chegarão à idade proposta, morrerão no meio do caminho. Sem contar que esta reforma tem o objetivo também de liquidar o Sistema Único de Saúde (SUS), impedindo ainda mais o acesso a serviço gratuito de saúde.

A cor, o gênero e a classe da violência
O racismo se materializa de diversas formas, contudo a forma mais desprezível é a aniquilação e objetivação dos corpos negros: extermínio, assassinatos, limpeza étnica, controle do corpo, através de encarceramento, violência, estupros, etc. Vejamos os dados.

O mapa da violência (2015) comprova a seletividade de cor gênero e raça. Ressalta que em dez anos elevou-se em 54% a morte de mulheres negras, enquanto que entre as mulheres brancas diminui em quase 10%.

Nos dados sobre violência é oportuno mencionar a situação repugnante que vive as mulheres no Haiti. Após 13 anos de ocupação militar comandadas pelo exército brasileiro o resultado é miséria, violência e estupro. Foram mais de 2.000 casos envolvendo soldados brasileiros em estupros segundo o Jornal Estadão (abril de 2017).

No ensejo, é preciso denunciar que o Brasil é campeão em mortes de travestis e transexuais segundo dados do Grupo Gay da Bahia. Só em 2016, foram 127, ou seja, uma morte a cada três dias.

No que se refere ao encarceramento, o Informações Penitenciárias, o Infopen Mulheres (2014), destaca que o Brasil é o quinto país com a maior população de mulheres encarceradas. No período de 2000 a 2014, tal aumento representa um total de 567,4% para a população feminina. Quase dois terços da população penitenciária feminina é negra e jovem; 68% dos casos estão relacionados ao tráfico de drogas, o que nos leva a concluir que esse encarceramento em massa é uma política de controle social e há uma política de segurança pública calcada na repressão, encarceramento, construção de presídios e privatização do sistema prisional em que lucra com cada preso.

Não à toa, os investimentos com a segurança nos últimos anos. Em 2014, chegou à marca de R$ 4,2 bilhões com um aumento de 150% no período, segundo o Ministério da Justiça. O aumento do efetivo de policiais, a compra de armamentos, a implantação das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPP), a construção de presídios foram ações prioritárias estabelecidas no governo Dilma. A lei antidrogas foi sancionada em 2006, pelo governo Lula, e a lei antiterrorista, por Dilma em 2016.

Já com Temer, os investimentos na área de segurança pública quintuplicaram. Somente no ano passado, mais de R$ 2 bilhões do orçamento, a prioridade é a construção de cinco grandes presídios de segurança máxima, ou seja, mais cadeia para pobres.

O sistema prisional no Brasil é degradante. Não ressocializa ninguém. A mão repressora do estado pesa sobre os corpos negros. É uma fábrica de matar. Corpos são castigados, mutilados, acometidos de doenças, empilhados, isolados em minúsculas celas, decapitados em momentos de motim, enfim é imposto sofrimento físico e psicológico que se estende a toda a família.

As visitas em presídios é algo incomum, são vexatórias. Às mulheres negras, as mais frequentes nas visitas aos seus maridos e filhos, é imposto um ritual que remete à humilhação do corpo. Elas são obrigadas a se despirem, a se agacharem sob o olhar de um agente penitenciário, e são escoltadas. A prática de castigo corporal nos remete a escravidão e, portanto, ao caráter escravagista da burguesia e seus governos nos dias de hoje.

Qual é a saída?
Historicamente, as mulheres negras vêm mostrando o caminho a partir de suas experiências concretas de organização. Um exemplo é a atividade guerreira, que desde os tempos coloniais mulheres negras estavam a frente, dirigindo quilombos, à frente de lutas importantes. Mulheres como Dandara, Tereza de Benguela, Luiza Manhin, mostraram que na luta contra o racismo, a unidade com a classe dominante é inconciliável. Não deram trégua representados capitães do mato.

A sua luta foi em libertar o seu povo, se concentrando em solapar as bases materiais do escravismo e as relações de trabalho entre senhores e escravos, para isto buscou unidade de classe com os indígenas e brancos pobres. As mulheres negras foram o principal alicerce de resistência da cultura africana no território brasileiro, seja na manutenção das religiões de matriz africana, fortemente perseguida no país, seja como referência para construir valores de civilização, identidade e desmistificação da farsa do mito da democracia racial.

No Brasil, combater o racismo passa, necessariamente, por compreender a ligação com o machismo e a classe, destruindo o sistema capitalista que gera tudo isso e liberte de fato nosso povo, tendo como referência nossos antepassados e toda a condição que fomos submetidos. Por isso, exigimos de imediato, enquanto medidas transitórias, a implementação de políticas de reparações, com plano de ação concreta que garanta o acesso à educação, emprego, saúde, renda, moradia e transportes dignos.

Por: Claudicéa Durans é membro da do Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe

As relações religiosas como arma ideológica de dominação

Desvelando a Transexualidade: Capitalismo, mercado de trabalho e da prostituição

O não-lugar no mercado de trabalho

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Fonte: Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra)

De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e outras organizações de travestis e transexuais, o preconceito no trabalho é tanto que a porcentagem de pessoas trans que precisa se prostituir para sobreviver é de cerca de 95%. Novamente a hipocrisia é tremenda, pois somos o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, que não aceita dar oportunidades de trabalho para essas mulheres no mercado formal, mas que paga por seus serviços sexuais na calada da noite.

Há raras exceções de empregos precarizados, como telemarketing (onde não se vê quem está do outro lado da linha) ou salões de beleza. É raríssimo encontrar professoras, médicas, advogadas etc. que sejam trans. Até mesmo no comércio, em que os donos dos estabelecimentos querem passar uma determinada imagem de seus produtos e de seu atendimento, não servem as pessoas trans, porque são estigmatizadas.

Prostituição: o único caminho

Já nas ruas escuras do nosso mundo hipócrita, elas podem estar a serviço do lucro dos cafetões e cafetinas, expostas a todo tipo de violência e relações marginais, realizando um dos trabalhos mais opressivos que se criou: a prostituição. Afinal, a pessoa que se prostituiu não presta um serviço ou vende sua força de trabalho com direitos regulamentados. Ela vende a si mesma, sem garantia de nada, correndo o risco de ser espancada e morta, lembrando que, segundo a Rede Trans Brasil, 50,6% das vítimas são profissionais do sexo, e, em cada 24 homicídios, o assassino era cliente da pessoa trans.

Há pouco tempo, diante de grandes eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, quiseram aprovar a Lei Gabriela Leite que legalizaria a prostituição. Infelizmente, a defesa e a proteção daquelas/es que se prostituem não passa por essa iniciativa nefasta, que aprofunda as relações de desigualdade de identidade de gênero, de raça e de classe social. É assim porque regulamentaria, na realidade, a cafetinagem, permitindo que 50% do valor do serviço prestado pudesse ser apropriado por quem agenciasse as pessoas travestis/trans e que, além de outros motivos, negaria a possibilidade de estupro, o qual seria entendido como negação da oferta do serviço e estimulando o que há de mais degenerado no que toca às relações humanas, transformando pessoas em mercadoria.

Ainda sobre a assimilação pelo capitalismo, há todo um mercado de adequação ao corpo e auto-tratamento desenvolvido para que as mulheres travestis/trans tenham corpos mais próximos daqueles que desejam ou que procuram os clientes. Assim, de maneira arriscada, muitas dessas mulheres compram hormônios no mercado informal e/ou aplicam silicone industrial em seus corpos com as “bombadeiras” (mulheres que injetam o silicone industrial). Como consequência, o silicone industrial pode causar trombose, gangrena e até amputação. Em alguns casos, provoca a morte.

Toda essa vida difícil e exclusão sofridas pelas pessoas trans provoca, não raro, situações de envolvimento com a marginalidade e a fuga para suportar a dor causada por tamanhas dificuldades e rejeição, levando ao envolvimento com o tráfico de drogas, ao adoecimento, à depressão, a tentativas de suicídio e ao uso de drogas para anestesiar tanta dor.

É necessário exigir iniciativas urgentes dos governos, como aquelas concernentes ao uso do nome social sem burocracia e amplo acesso à saúde pública e de qualidade, incluindo tratamento respeitoso e humano. E também, estando atentos/as às demais instituições, como a mídia, que tem enorme responsabilidade sobre a dinâmica social.

Frida Pascio Monteiro, ativista trans, mestranda em Educação Sexual e militante do PSTU de Fernandópolis (SP)

 

 

Desvelando a Transexualidade: A transfobia mata – Parte IV

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Sobre os assassinatos

O relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB) que lança anualmente um estudo sobre a população LGBT assassinada no ano anterior, mostra-nos em seu relatório mais recente, do ano de 2016, que: “tais mortes crescem assustadoramente: de 130 homicídios em 2000, saltou para 260 em 2010 e para 343 em 2016. Durante o governo FHC mataram-se em média 127 LGBT por ano; no governo Lula 163 e no governo Dilma/Temer, 325”.

O GGB também nos diz que um LGBT é morto a cada 25 horas no Brasil. Ele ainda nos aponta que: “dos 343 LGBTs que foram assassinados em 2016, 31% desses assassinatos foram praticados com arma de fogo, 27% com armas brancas, incluindo ainda enforcamento, pauladas, apedrejamento, muitos crimes cometidos com requintes de crueldade: tortura, queima do corpo. Travestis geralmente são assassinadas a tiro ou espancadas na rua, enquanto gays são mortos dentro de casa, com objetos domésticos: facas, fios elétricos, sufocados na cama, muitas vezes encontrados pelos vizinhos somente pelo odor do corpo já em putrefação. Proporcionalmente, as travestis e transexuais são as mais vitimizadas: o risco de uma “trans” ser assassinada é 14 vezes maior que um gay, e se compararmos com os Estados Unidos, as 144 travestis brasileiras assassinadas em 2016 face às 21 trans americanas, as brasileiras têm 9 vezes mais chance de morte violenta do que as trans norte-americanas. Segundo agências internacionais, mais da metade dos homicídios de transexuais do mundo, ocorrem no Brasil”.

O relatório iniciou-se em 2012, e quanto ao segmento de travestis e transexuais observou-se que: em 2012, foram 128 assassinatos; em 2013, 108; em 2014, 134; em 2015, 119 e em 2016, 144.  Outro fator importante a salientar é a crueldade dos assassinatos praticados. Transfeminicídios acabam tendo mais requintes de crueldade do que os feminicídios, talvez por carregarem em si o machismo e misoginia, aliados ao fator da transfobia. Travestis e transexuais não são apenas assassinadas/os, o número de facadas ou tiros acaba sendo maior do que o cometido contra mulheres cisgêneras. O ódio é tanto que descarregam o pente todo da arma, degolam, espancam, torturam, queimam, esquartejam, esmagam os crânios, muitas vezes, de tal modo, que fica praticamente impossível reconhecer a identidade dos corpos. Esta é uma forma de realmente vilipendiar esses corpos, tirando-lhes toda a humanidade, mesmo após a morte; deixando-lhes nuas, com genitálias expostas, em um misto de culto à violência com altas doses de sádico erotismo.

Pessoas travestis e transexuais são assassinadas 2 vezes: uma, literalmente; outra, ao terem seus nomes e identidades de gênero desrespeitados em notícias na mídia e ao serem enterradas com os seus nomes de registro civil não-retificados.

Porém, todos os dados de pesquisa estão longe de apontar a realidade, pois cabe lembrar que estes dados são subestimados, pois baseiam-se apenas em notícias da mídia em que a motivação do crime nem sempre é explicitada e muitos são, ainda, omitidos pelas famílias. Assim, o Brasil é o país do mundo que mais mata pessoas trans.

Segundo a Rede Trans Brasil, 94% das vítimas estão solteiras; 50,6% são profissionais do sexo, e, em cada 24 homicídios, um o assassino era cliente da pessoa trans. O mais interessante e hipócrita é que o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, mas, também é o país que mais consome pornografia deste segmento em suas buscas no Google por pornografia “tranny” ou “shemale”, dois termos altamente pejorativos utilizados pela indústria pornográfica mundial.

O Mapa de Assassinatos de Pessoas Trans no Brasil, feito pela ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), informa-nos que, só em 2017, de janeiro até o dia 9 de julho, foram cometidos 95 assassinatos contra travestis, mulheres e homens transexuais em nosso país.

A transfobia mata!