Sobre verinhakolontai1917

Bióloga, amante de felinos, gorda, gayzista, feminazy da esquerda revolucionária, Marxista, Leninista,Trostskista e Morenista. Profundamente convencida de que ser radical é ir as raízes do problema.

Conjuntura da luta das mulheres contra a opressão

Nos dias atuais temos visto que as mulheres têm saído às ruas em vários estados para manifestar se contra o PL 5069, de obra do Cunha, com gritos de “Fora Cunha” e “Barrar a PL 5069”, infelizmente não conseguimos avançar no debate a fim de que fique compreendido que Dilma também merece ser rechaçada, as ilusões das massas ainda estão mantidas, e as ilusões das mulheres, por Dilma ser uma mulher, também é um pilar que tem se mantido forte e ainda será necessário muita paciência militante para desfazer estas percepções ilusórias e sem análise aprofundada do que realmente Dilma representa.

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O PL 5069 só para dar uma situada, é uma das partes do estatuto do nascituro, não conseguiram passar o estatuto na época e resolveram desmembrá-lo para que fosse aprovado com mais tranquilidade, para nós, é muito óbvio isso. Com este PL, mulheres vítimas de violência sexual, para serem atendidas deverão antes fazer um B.O obrigatoriamente.

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Junto com o coletivo feminismo sem demagogia pude acompanhar de perto como se dá o aborto legal no Hospital Perola Byington, que é referencia em aborto legal, na época, meados de 2013, liguei para lá e fui orientada de que era necessário fazer o B.O apesar de não ser o que a lei diz, porém alguns médicos parecem negar se a fazer o aborto se não houver documentação policial do fato. Na época, como precisamos de ação rápida devido ao avançado tempo de gestação da vitima resolvemos nem discutir, e apenas fazer o Boletim de Ocorrência, para, além disso, existe toda uma equipe multidisciplinar para avaliar o caso da mulher vitima de violência sexual, o aborto não é realizado imediatamente, ela passa por psicólogos, assistente social que depois com a junta médica, com posse de exame de ultrassom que atesta se a idade gestacional esta dentro do tempo permitido para realização do procedimento, eles decidem se marcarão ou não o mesmo. (O tempo permitido para realizar o aborto é até 12 semanas ou até 500 gramas).

Este tipo de exigência, tal como fazer Boletim de ocorrência antes de ser atendida fará com que muitas mulheres deixem de denunciar os estupros, por variados motivos que vão desde o medo de ir à delegacia e serem esmagadas emocionalmente com perguntas que tratam a vitima como culpadas pela agressão que sofreram (Que roupa você estava vestindo? Por que estava neste lugar? Por que confiou na pessoa? Foi de livre e espontânea vontade com a pessoa até o lugar? Entre outras), até medo da ameaça da morte que por ventura receberem se denunciarem, ou tenham uma gestação indesejada e sofrida física/ emocionalmente, ou recorram a abortos clandestinos que sabemos que é grande causa de morte entre mulheres pobres.

Mas o PL não se contenta apenas com isso, fala também de forma vaga a respeito de substâncias abortivas, o PL da à alternativa aos médicos para que não informe as vítimas de violência sexual a respeito de seus direitos, afinal hoje a lei torna legal o aborto em casos de gravidez oriunda de estupro. O PL fala que as pacientes só poderão receber medicamentos não abortivos, o que fica a critério do médico decidir o que é ou o que não, sem critério, ou melhor, colocando a mulher a critério do machismo, a critério do conservadorismo e religiosidade do profissional que a atender e também propõe pena de seis a dois anos de reclusão a quem “induzir, instigar ou auxiliar”a gestante que deseja abortar. A venda ou oferta de substâncias que provoquem o aborto também invocam a possibilidade de prisão.

Sem dúvida, depois do Estatuto do Nascituro este é um dos maiores ataques aos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres vistos desde a volta da democracia. O projeto deve ainda ir ao plenário da Câmara e depois ao Senado.

O PL 5069 é altamente fundamentada em conceitos religiosos, segundo Cunha seus eleitores querem este tipo de proibição a cerca do aborto, seus eleitores são pessoas religiosas e conservadoras, pessoas que passam por cima de provas científicas, desejando submeter todos os demais a uma visão religiosa da vida que não somos obrigadas a tolerar, a pregação religiosa e sua visão deve manter se restritas para aqueles que professam a mesma fé, o estado é laico e deve manter se laico.

Negar a anticoncepção de emergência (AE) como medida crítica na assistência à violência sexual é de um retrocesso sem precedentes, existe ampla evidência científica que sustenta que a AE não atua após a fecundação, não altera a receptividade do endométrio, não prejudica a implantação do embrião ou resulta em sua eliminação precoce. A pílula do dia seguinte não é abortiva pois ela não impede a gravidez caso seja tomada depois da concepção (junção entre o óvulo e o espermatozoide). O mecanismo de ação dela é explicado pelo atraso da ovulação, impedindo assim a liberação do óvulo e o encontro deste com o espermatozoide. Logo a decisão de não administrá-la a paciente com argumento de ser abortivo é qualquer coisa menos cientifico. Negando a AE a mulher vitima de violência sexual, estaremos condenando o uso de um mecanismo que tem índice de efetividade médio de 80%, ou seja, elimina a possibilidade em média de quatro de cada cinco gestações decorrentes da violência sexual. Sua eficácia é superior a 99% quando empregada nas primeiras 12 horas da violência sexual. Difícil paradoxo, pois querem negar o aborto e querem negar os métodos que evitam o aborto.

O Cenário

Passamos por todos estes ataques, mas, não sem notar o silêncio perturbador de Dilma, que como mulher mantém se afastada de todo este debate, e este silêncio é uma declaração absoluta de que ela não esta do nosso lado. Dilma desde a carta ao povo de Deus comprometeu-se com os setores reacionários, conservadores e religiosos a não tratar do tema da legalização do aborto em seu governo, mesmo sabendo que negar-se a legalizar o aborto seria assinar a sentença de morte de milhares de mulheres pobres, da classe trabalhadora, periféricas e de esmagadora maioria negras. Dilma não fala sobre a legalização do aborto em seu governo e não manifesta se contra os ataques que as mulheres recebem da bancadas religiosos do congresso, Dilma não esta lá para nos representar. É muito importante que as mulheres entendam isso, que a nossa presidenta, apesar de ser mulher, não está empática com nossos dramas e nossas perdas.

O PL nos sentencia a gravidez indesejada, enquanto nos negam os direitos á maternidade plena.

Sempre bom recorrer ao que, entre outras avaliações, fez com as mulheres votassem em Dilma para presidenta, ela utilizou – se de promessas que beneficiariam as mulheres, porém não cumpriu, entre estas promessas estão prometidas 6000 mil creches, estas apenas 786 foram entregues. Não é difícil encontrar reclamações em bairros periféricos, como Grajaú, por exemplo, a respeito da inexistência de vagas em creches e a demora absurda para se conseguir uma vaga, impossibilitando as mulheres de voltarem de retomarem suas vidas profissional e escolar após o período de licença maternidade.

Mas não para por ai, no turbilhão de ataques aparece o Governador de São Paulo com tal reorganização escolar, uma medida arbitrária, autoritária, que não tem consenso entre pais, alunos, professores e Estado. A medida não tem a menor preocupação com os problemas que isso irá causar aos pais e mães dos alunos, aos alunos que já são trabalhadores e necessitam do horário noturno, aos professores que terão de atender salas superlotadas, algumas escolas já se fala em até 80 alunos por classe.

A luta das mulheres contra Cunha e a luta dos jovens contra reestruturação da educação promovida por Geraldo Alckmin são lutas que se entrelaçam, dos dois lados há mulheres perdendo direitos, com Cunha temos ataques a nossos direitos reprodutivos, com Alckmin temos a educação sendo precarizada e dificultada em acesso as jovens da classe trabalhadora, em 2012, 26,6% das Mulheres brasileiras entre 18 e 24 anos deixaram a escola antes do tempo.

Só para constar: É no universo de jovens de 15 a 17 anos que se encontram os gargalos do sistema educacional. A taxa de evasão altíssima foi estudada pela UNESCO que concluiu que mais de 50% dos jovens que evadem do ensino médio tem o seguinte perfil: negros, oriundos de famílias chefiadas por mulheres e com renda per capita inferior a 2 salários mínimos. Abandonam os estudos para se dedicar a ajuda no sustento da família. Não por coincidência, este é o mesmo perfil dos jovens vítimas de homicídios na periferia.

Enquanto somos atacadas por Cunha, que quer tirar de nós o direito de decidir ter um filho ou não ter um filho, temos Alckmin nos punindo por ter filhos e por precisar trabalhar, numa idade em que os filhos dos ricos somente estudam, se quisermos estudar teremos que nos esforçar o triplo, indo a lugares longínquos para assistir aula, e nos virando a nossa própria sorte.

  • As lutas devem unificar se!
  • É pela vida das mulheres é pelo direito ao ensino público de qualidade das mulheres!
  • É pelo direito a assistência do Estado ás mulheres!
  • Por mais creches, por creches dentro das escolas para as estudantes que são mães, as que QUISEREM SER MÃES.
  • Intensa campanha de prevenção á gravidez para evitar, e Aborto legal para não morrer!

Site pesquisado

Aborto e violência sexual. http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252012000200015&script=sci_arttext, acesso em 13/11/2015.

O Genocídio Capitalista Contra a Mulher Negra

Por: Gleide Davis150814_capitalismo_racismo

Como muitos sabem, o capitalismo é um sistema econômico-político-social que não funcionou. Teoricamente, seria o sistema onde todos pudessem enriquecer livremente (com os vieses liberais) com as devidas oportunidades ao qual cada um criaria por si só. Porém, fica claro e notório que nós não possuímos as mesmas oportunidades no contexto social, existem fatores aos quais influenciam fortemente a ascensão social e econômica de cada individuo: a classe social em que ele nasceu, a educação familiar e escolar que ele recebeu, e por fim e muito importante; a sua etnia, gênero e por vezes a sua orientação sexual e até mesmo o seu estilo de vida. Nessa hierarquização de classe, gênero, etnia, o capitalismo se fortalece; porque não é benéfico para o mesmo que todos possuam as mesmas oportunidades, assim, fica impossível que a classe trabalhadora enriqueça completamente e gradativamente tal qual a dominante. O capitalismo se beneficia pela alta produção baseada em exploração do homem sobre o homem (homem = ser humano), e da falta de competitividade e hegemonia comercial.

Diante dessa hierarquia, onde podemos visualizar uma pirâmide em relação a benefícios e ascensão social, a mulher negra encontra-se na base, onde se há mais dificuldade em crescimento social e oportunidades para tal. Sabe-se que no mercado atual, a mulher encontra-se em desvantagem exorbitante no que diz respeito a carteira assinada (cerca de 72% das mulheres trabalhavam em cargos domésticos sem carteira assinada em 2012)), em relação a salários, dados divulgados, em 2011, no Anuário da Mulher apontam que, em 2009, o rendimento médio mensal dos trabalhadores não negros era de R$ 1.534,00; das mulheres não negras R$ 1.001,00; dos homens negros R$ 839,00 e das mulheres negras R$ 558,00. Logicamente que esses números aumentaram com o aumento de salário, porem o distanciamento de renda não mudou quase nada.

Em relação à família construída compulsoriamente por fatores sociais embutidos, tais como a criminalização do aborto que só atinge às camadas mais pobres da sociedade, pois a mulher negra e pobre, é a única que está submetida a morrer por falta de dinheiro para uma clinica ilegal segura e técnicas de aborto que preservem a sua vida, o aborto não deixa de acontecer em função da sua não legalidade, mas ele só mata quem não pode pagar por ele.

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Com isso, sabe-se que as mulheres negras estão em sua grande maioria, como chefes de família, por serem abandonadas ou estarem submetidas à relações de bigamia, por falta de conhecimento ou puramente por medo da solidão. (Sobre a solidão da mulher negra) – essas famílias, analisando o contexto de mercado, tem enormes chances de possuírem baixa renda, devido a pouquíssimas oportunidades de crescimento profissional, e quase nenhuma assistência do estado que ofereça amparo para que essas mulheres possam trabalhar e sustentar suas famílias, muitas precisam optar por trabalharem ou cuidar de seus filhos; obrigando-se a inserir renda familiar e sobreviver, muitas delas sem qualificação acadêmica e profissional o suficiente, acabam inserindo-se na venda de drogas, drogas aos quais são previstas em leis como ilegais, mas que logicamente só atinge as populações mais marginalizadas.

“O Brasil tem a quarta população carcerária do mundo, com 550 mil detentos, dos quais 35 mil são mulheres, o que corresponde a 7% do total, um número que vem crescendo de a forma assustadora, principalmente pelo envolvimento com tráfico de drogas, e elas sofrem com discriminação, violência e falta de assistência médica nas cadeias, segundo o juiz auxiliar da presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Luciano Losekann.”

Essa situação de encarceramento é visivelmente apontada para as pessoas negras, por questões de marginalização social e racismo inconstitucionalizado.

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“O perfil da mulher presidiária no Brasil é o da mulher com filho, sem estudo formal ou com pouco estudo na escola elementar, pertencente à camada financeiramente hipossuficiente e que, na época do crime, encontrava-se desempregada ou subempregada. Em geral, as mulheres criminosas são negras ou pardas (20.756 delas, enquanto apenas 9.318 são brancas – MACEDO, 2010 -, num universo em que a população negra ou parda é de 91 e a branca de 92 milhões de pessoas, no Brasil – SEADE, 2011:1).

Fica explícita a sobreposição de excludentes sociais, gerando grupos marginalizados em decorrência de mais de um fator.

Conforme dados do DEPEN, 60% da população carcerária feminina encontram-se presa em razão de tráfico nacional de drogas[1]. (DEPEN, 2010)”

Porém com a desvalorização da força de trabalho feminina e negra no Brasil, o número de mulheres negras em situação de encarceramento está em constante crescimento em relação ao número de homens:

“Mapa do encarceramento: O estudo demonstrou que entre os anos de 2005 e 2012 a população carcerária do Brasil aumentou 74%, principalmente em razão da prisão de jovens, negros e mulheres. Embora o número de presos do sexo masculino ainda seja maior que o do sexo feminino, o crescimento do índice de homens presos foi de 70% enquanto o de mulheres presas foi de 146%, mais que o dobro percentual.”

Essa desumanização adotada pelo capitalismo é extremamente racista e classista, beneficiando a camada social que possui mais chances de saírem de situação de riscos sociais e ilícitos, dando margem à analises que permeiam a falta de estrutura educacional e social oferecidas pelo sistema como arma para a falta de capacidade de questionamento desses indivíduos em situação de marginalização social.

A teoria comunista deixa explicita a preocupação na estatização da educação, proporcionando o viés de articulação de melhorias no sistema estrutural, que por sua vez, insere a capacidade de questionar valores e capacidade de crescimento social diante da sua colocação enquanto individuo na sociedade, bem como o poder de trabalho dado a classe trabalhadora, fechando precedentes de exploração.

Esse viés comunista, aplicado a intersecionalidade das lutas sociais atuais, aplica-se como uma estratégia perfeitamente inserida como uma luta que beneficia as mulheres trabalhadoras e por sua vez, as mulheres negras, pois são as que estão em sua grande maioria no domínio das famílias de baixa renda e de baixo apoio educacional e incentivo ao crescimento profissional.

[…] ao concentrar a riqueza nas mãos de uma minoria e ao privar de toda propriedade a imensa maioria da população, haveria de proporcionar primeiro o domínio social e político à burguesia, e provocar depois a luta de classe entre a burguesia e o proletariado, luta que só pode terminar com a liquidação da burguesia e a abolição de todos os antagonismos de classe (ENGELS).

– Gleide Fraga

Referências:

http://emporio-do-direito.jusbrasil.com.br/noticias/197060352/novo-relatorio-do-pnud-e-da-snj-afirma-que-populacao-carceraria-brasileira-cresceu-74-em-sete-anos-e-cerca-de-70-das-prisoes-sao-motivadas-por-questoes-patrimoniais-e-de-drogas-confira-a-integra-do-mapa-do-encarceramento

http://professoraalice.jusbrasil.com.br/artigos/121814131/mulheres-trafico-de-drogas-e-sua-maior-vulnerabilidade-serie-mulher-e-crime

http://agencia-brasil.jusbrasil.com.br/noticias/100658428/mulheres-sao-7-da-populacao-carceraria-no-brasil

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Sobre meninas com idade entre a infância e adolescência, e homens mais velhos.

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Há algumas semanas surgiu por ai um debate acalorado sobre meninas que relacionam– se com homens mais velhos. Lançar o questionamento sobre o assunto bastou para que houvesse um verdadeiro surto de mulheres defendendo com ferocidade que “Onde esta a liberdade de escolha?”, ou “só por que elas são adolescentes não tem direito a exercer sua sexualidade?” ou “Esta critica é moralista” ou “Pergunte a elas como elas se sentem!”. Por trás deste protesto todo existe um pensamento enraizado, uma visão de como devem ser as coisas sobre um viés liberal.

Todas as vezes que as feministas da esquerda levantam se para problematizar a sexualidade, são atacadas com todo tipo de acusação que as identifique como moralistas, como se tudo que as feministas da esquerda quisessem fosse impor regras sobre a sexualidade alheia,  mas não trata-se de impor regras, não trata se de moralismo, trata se de fazer uma análise materialista da situação, ir além da repetição de jargões que levantam a bandeira da individualidade sem observar o que acontece no geral, como se dá a maioria dos processos.

Tem sido nítido a propagação de ideias liberais e isso nota se facilmente  na forma que as pessoas argumentam trazendo como verdade incontestável  suas histórias pessoais, e como se dá isso? Surge uma mulher e diz “Eu fui uma menina de 14 anos que namorou um homem de 40 anos e sou feliz até hoje…” A personalização da critica, a individualização da mesma, é o cerne do pensamento liberal, que deixa de analisar toda uma conjuntura para basear se nas experiências pessoais, e é este mesmo tipo de ideia que o capitalismo usa para reforçar, por exemplo, a meritocracia, o sistema deixa passar, por exemplo, um proletariado que pode ser único, mas que chegou lá, enriqueceu, driblou o “azar” e por mérito próprio, superou as dificuldades. Com este exemplo eles dizem aos demais que é possível: “veja só, existe quem conseguiu”, mas acontece que a análise conjuntural da situação mostra claramente que a meritocracia é uma mentira, e como se constata isso? Observando que existem milhares de trabalhadores honestos que se esforçam diariamente e jamais chegaram lá, no topo.

As idéias mais difundidas hoje no feminismo são as da vertente liberal que tende a defender que existe liberdade no privado, ou seja, que na vida privativa as pessoas podem fazer o que quiserem, que ninguém deve interferir, que intrometer se “no tesão alheio” é moralismo. Normalmente usam este tipo de argumento para fazer calar as feministas interseccionais e socialistas, quando estas resolvem problematizar situações defendidas por este viés burguês, mas esta defesa cai por terra, por exemplo, quando fala se de estupro marital, violência doméstica, como defender a mulher desta opressão sem interferir no privado? Só lembrando que muitas mulheres não entendem que estão sendo vitimas de estupro, muitas mulheres defendem seus agressores, e o fazem por ignorância, por submissão, por vários motivos que impossibilitam – nas de livrar se destas situações, e uma das grandes sacadas da lei Maria da Penha é justamente que não há necessidade da pessoa em situação de violência denunciar, pode ser alguém que seja testemunha da situação a fazê-lo.

A intromissão no privado  em casos de violência doméstica tem sido muito bem vindo, porém só nestes casos é muito bem vinda,  não em todos os casos, não é mesmo? As mulheres envolvidas pela ideia liberal de feminismo têm cada vez mais reivindicando que não toquemos no seu privado, naquele assunto que elas não querem que seja debatido, aquele assunto que para elas, pessoalmente não traz problemas. Mas estas mesmas mulheres, que assumem esta posição individualista, recusam-se a analisar como segue a situação da esmagadora maioria das pessoas vivenciando esta mesma situação e tendo sobre si uma carga opressiva que trará danos, muitas vezes irreversíveis as suas vidas.

A desqualificação da problematização que as feministas da esquerda trazem mostra uma tentativa de naturalização da sexualidade; e naturalizar é um passo fundamental para que cessem os questionamentos e para tanto, levar para máxima “sempre foi assim e sempre será”. Nós não podemos concordar com este tipo de análise e argumentação, pois a sexualidade, assim como as relações que estabelecemos são socialmente e historicamente construídas, a sexualidade não é natural, é construída e por isso precisa ser analisada dentro da dialética, sobre seus aspectos materiais.

Dito tudo isso quero reforçar aqui que não quero neste diálogo falar de casos isolados e minoritários, que destacam se por terem dado certo, não quero falar de Malu e de Marcelo, não quero falar daquele caso que você acompanhou e que deu certo, muito menos da sua história pessoal, sua vivência é válida sim, mas além do sensível, além das suas experiências pessoais, existe um mundo de pessoas vivendo por ai para serem analisadas, e é ai que entra o método cientifico de análise, tomar o todo, verificar como se dá a maioria dos casos, e com base na maioria diagnosticar onde esta o problema e traçar formas de superação do mesmo.

Vamos fazer uma viagem pela realidade da vida, onde não existem Malus e nem Marcelos, mas sim Daianes, Polianas, Stephannys, Gabrielles, Josefas, Rutes, Eloás, Shirleys… Uma rápida busca pela internet e temos uma porção de casos onde relacionamentos de mulheres adolescentes com homens mais velhos acabaram em tragédia, e não estamos falando dos casos de exceção que as pessoas insistem em levantar como sucesso desta modalidade de relação, mas são a esmagadora maioria, alguns deles para exemplificar:

– Shirley tinha 16 anos e namorava com José Ramos dos Santos, de 23 anos. Ela confessou uma traição, ele a matou e decapitou.

– Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, ela namorava com Lindemberg Fernandes Alves, então com 22 anos, invadiu o domicílio de sua ex-namorada, manteve-a refém, e acabou tirando a vida da adolescente com um tiro por não aceitar o fim do relacionamento.

– Britânico de 34 anos matou a namorada de 14 anos por ciúmes, ela não quis dar a senha de suas redes sociais para ele.

– Daiane de 14 anos, foi morta por Adilson de 19 anos, ele disse a Daiane que se ela rompesse o relacionamento, não ficaria com mais ninguém.

– Poliana Alexandra de Araújo Alves, de 14 anos, e a amiga dela, Luzinete Lemos Rodrigues, de 16 anos foram mortas por Diego José da Silva, ele desconfiava que as duas tivessem um relacionamento homoafetivo;

– Sthefanny Oliveira Silva, de 14 anos, e a mãe da adolescente, Cássia Oliveira da Silva, de 35 anos, mortas pelo namorado da adolescente que tinha 20 anos.

– Gabriele de Assis Cassemiro, de 14, assassinada pelo namorado Adelson de Morais Lima, de 25 anos.

Por que tantas meninas relacionam se com homens tão mais velhos que elas? Existem tantas possibilidades para esta pergunta quando trata se do por que a adolescentes se envolve com homens mais velhos, mas existem poucas para o porque dos homens adultos envolverem-se com mulheres tão mais jovens que eles, a motivação esta no poder que facilmente é exercido sobre pessoas que estão em desigualdade fomentadas pelo machismo. Sem deixar passar que outras motivações que esta discussão quer mascarar é a sexualização de meninas, adultização de crianças, pedofilia, exaltação das Lolitas e naturalização do abuso.

Como foi dito no começo do texto, aqui nós não queremos falar de casais específicos, nem pessoalizar a critica que será feita, queremos fala de dados estatísticos de uma maioria de mulheres que acabam submetendo se a relacionamentos em idade muito precoce, e perdem parte de suas vidas, adquirindo para si responsabilidades da vida adulta. Muitas mulheres que tiveram relacionamentos na adolescência com homens mais velhos relatam que havia algo marcante neste tipo de relação, elas eram crianças demais, quando eles queriam que a opinião deles prevalecesse, elas eram maduras para idade quando concordavam com eles, ou seja, a relação de poder estava ali, imposta, com desqualificação das opiniões contrárias as deles, levando as a submeter se a vida que eles traçavam para elas.

Outra situação importante relatada por estas mulheres é que um dos momentos em que eles sempre a aplaudiam como maduras, era quando tratava- se de sexo, eram incentivadas a fazer posições variadas e agradá-los sexualmente com realização de fantasias, tudo sobre o incentivo de que isso seria ser madura, mesmo que estivessem fazendo coisas que não agradassem a elas, o importante era para estas meninas, firmar-se como madura para aquele homem. Estas observações foram feitas em relatos enviados para pagina na própria postagem que levantou o assunto, e também em debate com as moderadoras da página FSD, que vivenciaram este tipo de situação.

Mas quem seria a esmagadora maioria das meninas e adolescentes envolvidas em relacionamentos precoces?

Um estudo realizado pela Secretaria da Saúde mostra que as maiorias das mães que são adolescentes engravidam de homens cinco anos mais velhos em média. Estas mulheres relacionadas neste estudo têm de 10 a 20 anos. É necessário deixar bem claro aqui que o comportamento das meninas mais jovens quando relacionando se com homens mais velhos é de submissão. Elas admitem o fato de serem menos experientes e ou confiam neles ou sentem se constrangidas de impor determinadas posições, como por exemplo, o uso de preservativo. Para a coordenadora do programa de Saúde do Adolescente da Secretaria da Saúde, Albertina Takiuti, diante de homens mais velhos, as meninas ficam inibidas de propor uso de preservativo.

Em outro estudo realizado foram pesquisadas 1000 adolescentes em um hospital, entre elas: 24% foram atendidas por motivo de gestação, 7% foram atendidas para curetagem pós-abortamento, 93% para parturição. Com idade média de 17 anos, sendo que 17% tinham até 15 anos. As classes sociais em que estas adolescentes estão inseridas são as mais baixas, entre C, D, E. Na época do parto 67% não estudavam. Estes dados são muito importantes, por que demonstram claramente qual o perfil das adolescentes que perde a juventude, perde o tempo em que deveriam estar preparando se para a vida adulta, adquirindo precocemente responsabilidades da vida adulta, elas são pobres e são periféricas.

Nas classes mais abastadas este índice é infinitamente inferior, vivemos numa sociedade pautada em que a educação e cuidado com os filhos esta entregue aos pais, é uma faceta do próprio sistema capitalista louvar a família nuclear, justamente por que ela será à base de formação dos novos trabalhadores para o sistema, porém, este mesmo capitalismo força a ausência dos pais de casa por longos períodos a fim de manter a sobrevivência. As classes mais baixas têm uma configuração diferente se comparadas às famílias de classe média e ricas, nas classes baixas a família é formada em sua grande maioria por mães que chefiam a família sem a presença do companheiro, divorciadas ou abandonadas, trabalham por cerca de 9 horas fora de casa, se analisarmos as dificuldades para chegar em casa, visto que apesar de morar na periferia a maioria das vagas de emprego estão nas regiões centrais, estas mulheres levam até 3 horas para chegar em casa, quando chegam tem que se ocupar dos afazeres domésticos, e então fica a pergunta, onde existe tempo neste cotidiano perverso de educar uma filha, acompanhá-la em seus dilemas adolescentes, protegê-las de relacionamentos danosos?

A família burguesa, classe média alta tem outra formação, são maioria formada por casais, se por aparência ou não é outro papo, mas apresentam se assim, existe disponibilidade de pelo menos um dos pais para assumir a responsabilidade da educação dos filhos e filhas, normalmente a mãe faz este papel, se observamos a classe médica, por exemplo, uma área que agrega alta porcentagem de pessoas de classe média alta ou burguesa, a grande maioria das pessoas que se graduam são mulheres, mas a grande maioria das pessoas que exercem são homens, as mulheres acabam abandonando o exercício da profissão para cuidar da educação dos filhos (as). E esta educação dada é fundamentada na importância das etapas da vida, as famílias burguesas protegem seus filhos (as) para que não interrompa se os ciclos, estimulando aos estudos sempre, cobrando resultados e acompanhando passo a passo. Notem que ao passo que existem duas formações familiares, dois tipos de caminhos pegos, um pelas adolescentes pobres e periféricas, outras pelas adolescentes de classe alta, temos um aprofundamento das desigualdades, e uma manutenção do status quo, permanecem nas classes abastadas quem já estava por lá, mantém se nas classes desprivilegiadas quem já estava lá também.

A ideia de “direito ao nosso corpo” disseminado pelas feministas liberais, não faz a problematização do que isso significa para as mulheres pobres, periféricas e de maioria negras, por que o feminismo liberal observa a libertação das mulheres de um ponto privilegiado, do ponto alto da sua classe. Desde seu surgimento, o feminismo liberal simplesmente ignorou as pautas das mulheres trabalhadoras e pobres, e um exemplo disso é que as sufragistas, feministas brancas e burguesas, queriam si lutar pelo direito a voto para as mulheres, mas não todas as mulheres, apenas as que possuíssem propriedades privadas, ou seja, mulheres trabalhadoras estavam fora da luta por direitos. Mas são estas ideias que estão disseminadas como absolutas no meio feminista até os dias de hoje e são repetidas pela esmagadora maioria das feministas sem reflexão do realmente querem dizer. Ressaltamos ainda que o que leva estas meninas a engravidarem nesta idade além da formação da família ineficaz para dar cuidados e atenção a esta fase de desenvolvimento das filhas, conclui-se que um dos fatores que levam as adolescentes a engravidar é a falta de auto continência para lidar com suas angústias e impulsos, capacidade que não foi suficientemente favorecida por suas famílias e pelo meio social em que vivem. Esta conclusão foi verificada na observação de adolescentes entre 15 a 17 anos. Entre as adolescentes avaliadas todas mantinham relacionamentos com homens mais velhos, a saber, como exemplo: Daiana com 15 anos, sexta série incompleta, o pai da criança com 25 e Sara com 16, segunda série do ensino fundamental, e o pai da criança com 34 anos. Ambas começaram a se relacionar com estes homens aos 11 anos de idade, estes homens foram os primeiros parceiros sexuais e únicos e deles elas engravidaram. Esta é a realidade. Quero deixar escurecido que a realidade não é a pintada e romanceada pela burguesia, a realidade esta com as meninas pobres, brancas ou pretas, e periféricas.

Não podemos nos pautar pelas exceções e fechar os olhos para esmagadora maioria das meninas que começam relacionar se muito jovens, deixam os estudos, assumem uma vida adulta no período da infância para adolescência, perdendo a oportunidade de estabelecer se na vida, assim como as filhas das burguesas o fazem, e sendo cobradas tanto por este homem que as tira do caminho sadio, como pela sociedade que as culpa se reclamarem, por que sempre será culpa da menina, a menina que: “Deveria estar estudando, mas estava no funk dançando até o chão e sensualizando” ou “que estava por ai pegando os caras e fazendo sexo sem proteção” ou “que não se deu ao respeito”, a culpa nunca é do homem que utilizou se do machismo para sentir se no direito de sexualizar os corpos de meninas com idade muito inferior a deles, meninas que não estão aptas a relacionamentos adultos, meninas que não estão em igualdade com eles.

A idade de consentimento no Brasil é de 14 anos, mas adolescência é um período que se estende até os 18 anos. Reforçamos que, o grande número de meninas e adolescentes vivendo relacionamentos que pautam se pela desigualdade e interferem em seu desenvolvimento sadio é alarmante e tem lugar de classe, é aqui entre as pessoas pobres e periféricas que isso acontece com frequência, naturalizar estas situações é tudo que o opressor de classe e o patriarcado desejam, assim mantemos não só a dominação masculina sobre a vida das mulheres, como também mantemos homens como privilegiados do sistema, já que mais velhos que elas, provável terem mais anos estudados, e condições de independência financeira, e de lavada, mantém se o status Quo, com as filhas de burgueses sendo preparadas para o topo da cadeia social, e sendo salvaguardadas em todas as etapas de suas vidas para que isso seja possível, enquanto as meninas das classes baixas são ceifadas de oportunidades que poderiam dar lhes emancipação.

Liberdade sobre nosso corpo é tê-lo respeitado em todas as fases do nosso desenvolvimento, é termos nosso tempo para nos adequarmos as experiências de cada etapa, e não sermos sexualizadas por homens adultos, que se aproximam e tomam de nós, através de uma sedução coercitiva, para nos envolver. Liberdade sobre nosso corpo nunca será adequarmos- nos os fetiches dos homens por lolitas e ninfetas, chamando isso de escolha, como se fosse possível escolher dentro de uma sociedade igual, quando sequer temos ainda a maturidade suficiente para decidir. A reivindicação do feminismo liberal que tenta naturalizar estas situações, realmente não nos representa.

Por: Verinha Kollontai

Bibliografia

Gravidez na adolescência: perfil sócio-demográfico e comportamental de uma população da periferia de São Paulo, Brasil. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2007000100019 Gravidez na adolescência: um estudo exploratório http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-59432006000200002 Estudo aponta que mães adolescentes engravidam de homens mais velhos http://www.ibvivavida.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=3344:not3530&catid=34:noticias&Itemid=54 Por : Verinha Kollontai

Gaslight e a naturalização da mulher como descontrolada emocionalmente

Existe uma naturalização de que a mulher é exagerada, emocional demais, e é normal a gente ver as próprias mulheres aceitando estas características como próprias delas, e esta aceitação tácita destas características é tudo que o machismo precisa para violentá-la sem que ela consiga entender o que esta acontecendo, e ainda de brinde para o machista, culpar-se, por que afinal, as mulheres são assim mesmo, né? Exageradas.

– Você é tão sensível!
– Você é tão emocional!
– Você está sempre na defensiva!
– Você está exagerando!
– Acalme-se!
– Relaxe!
– Pare você está pirando!
– Você está louca!
– Eu estava apenas brincando, você não tem um senso de humor?
– Você é tão dramática.
– Você é tão estúpida!
– Ninguém vai querer você!

Soa familiar?

Se você é mulher, provavelmente seu companheiro já fez isso, ou faz. A probabilidade de a mulher ser a vitima deste tipo de violência, que chama se GASLIGHT, é infinitamente maior para mulher devido ao sexismo e machismo, que trata a mulher com desqualificação, inferiorização e descrédito. Basta notar que, é divulgado massivamente que os homens são racionais e as mulheres emocionais, mas não dizem que as mulheres têm uma inteligência emocional, trata se de uma desqualificação, o que quer dizer se com isso é que elas são descontroladas emocionalmente, ou seja, os homens são superiores, eles devem ter crédito e as mulheres não.

Este é um tipo de manipulação emocional que alimenta uma verdadeira epidemia no mundo, uma epidemia que define as mulheres como loucas e irracionais, excessivamente sensíveis, desequilibradas… Esta epidemia ajuda a alimentar a idéia de que as mulheres diante de qualquer menor provocação perdem o controle de suas emoções, e isto é MENTIRA.

Os homens têm usado este tipo de manipulação emocional, embasada no machismo, para manterem se privilegiados nos relacionamentos, assim eles podem errar a vontade, trair acordos, fazer piadas depreciativas da companheira, humilhar, etc. que no final das contas, o discurso será sempre o mesmo: “Você esta exagerando, eu estava apenas brincando…” E a mulher pensa “Realmente, acho que estou exagerando” e fica ali sendo ferida, esmagada, tendo a autoestima destruída dia após dia, sem forças para reagir, por que entende se culpadas das situações. Às vezes, é tão convencida disso, que a agredida, é quem pede desculpas ao agressor, sentindo se aliviada por ele ter perdoado. O homem assume um papel de Deus sádico na vida da mulher, dispondo dela como bem entender.

Um exemplo fácil de ser encontrado é quando o homem usa alguma característica física da mulher, e faz comentários depreciativos, como piadas a respeito do peso dela, para logo em seguida, quando a mesma reage, dizer a ela que ela esta exagerando e que ele estava apenas brincando.

O gaslight pode ser algo muito sutil, tão simples como alguém sorrindo e dizendo algo como: “Você é tão sensível”. Tal comentário pode parecer inócuo o suficiente, mas, naquele momento, o orador está fazendo um julgamento sobre como alguém deve se sentir. A desqualificação das percepções e sentimentos da outra pessoa é uma violência emocional.

É muito mais fácil manipular emocionalmente uma pessoa que tem sido condicionada pela nossa sociedade a aceitá-la. Provavelmente algumas mulheres pensarão que por serem mulheres empoderadas, fortes, independentes… Não serão alvo deste tipo de violência, é importante dizer que todas estamos à mercê disso, por que é muito difícil diagnosticar o quadro, não esperamos que a pessoa que amamos, escolhemos para viver ao nosso lado e dividir a vida, nos trate desta forma, e por isso seguimos desculpando e aceitando a situação, quando não nos culpamos pela mesma.

O GASLIGHT rouba da mulher sua arma mais poderosa, ele rouba sua voz. Notem que muitas vezes ao fazermos cobranças aos nossos companheiros, namorados, maridos… Nós tentamos fazer de uma forma meiga, calma, quase como se nos desculpássemos por chamar atenção deles sobre algo que nos incomoda, e desta forma as mulheres vão tornando-se seres passivos, seres não assertivos, não combativos, presas fáceis para todos os tipos de violência machista. E é com este tipo de desqualificação da sanidade da mulher que o machismo também desconstrói a possibilidade de independência delas, afinal se são tão vulneráveis emocionalmente, como poderão alçar cargos elevados dentro de empresas, ou grandes responsabilidade, postos de liderança, não é mesmo? É muito valioso para manutenção dos privilégios dos homens tratarem as mulheres como desequilibradas, naturalizando estas características como inerente a elas.

O homem que faz isso é machista e covarde. O homem que faz isso, não faz de maneira não intencional, ele sabe que esta ferindo a companheira e a cada dia é mais complicado pedir aos homens para que observem suas atitudes, para que parem de praticar violências machistas, pois grande parte da população masculina esta comprometida em defender seus privilégios, mas esperamos que este tipo de leitura, além de esclarecer as mulheres para que possam se defender, também conscientize os homens.

Amor à vida: Linda e Rafael, amor ou abuso de incapaz?

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Antes de começar a falar do tema, vamos definir o que é o autismo:

O autismo é uma disfunção global do desenvolvimento. É uma alteração que afeta a capacidade de comunicação do indivíduo, de socialização (estabelecer relacionamentos) e de comportamento (responder apropriadamente ao ambiente — segundo as normas que regulam essas respostas). Esta desordem faz parte de um grupo de síndromes chamado transtorno global do desenvolvimento (TGD), também conhecido como transtorno invasivo do desenvolvimento (TID). Mais recentemente cunhou-se o termo Transtorno do Espectro Autista (TEA) para englobar o Autismo, a Síndrome de Asperger e o Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação.

Definido o que é autismo, falemos sobre como é retratado na novela e sobre as consequências.

A novela amor à vida tem em seu quadro de personagens uma moça autista, Linda (Bruna Linzmeyer) e um homem que se “apaixona” por ela, Rafael (Rainer Cadete). Nos últimos capítulos o par romântico deslancha, a relação sai da esfera da amizade e chega ao primeiro beijo.  Ao levar Linda para um passeio em uma praça próxima da casa ela lhe pede um beijo, o rapaz atende. Flagrados neste momento pela mãe (Sandra Corveloni) e a irmã  (Fernanda Machado) da personagem, o rapaz é acusado do abuso e é repreendido por ambas. Já de volta a casa o irmão de Linda, (Rodrigo Andrade), agride Rafael e, não “bastando” tudo isso, a mãe e irmã no dia seguinte vão a delegacia e denunciam o rapaz. Tudo isso acontece sobre um clima de que estas pessoas que estão contra o romance, não estão na verdade se importando com a felicidade de Linda, mas descontaram suas frustrações em cima do rapaz. O irmão Daniel, por exemplo, estava de “cabeça quente” por ter brigado com Perséfone (Fabiana Karla) e Leila queria se vingar do advogado por ele ter auxiliado Thales, (Ricardo Tozzi), a abrir mão de sua herança. E a mãe? Bom à mãe assume um papel de conservadora manipulada por Leila, que queria apenas vingar se de Rafael. Ufa quanta trama!

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A novela esta na verdade confundindo a cabeça do telespectador desinformado que nada conhece a respeito do autismo. Primeiramente, a mãe não está impedindo esta relação por que não se importa com a felicidade de Linda, mas sim para defender a integridade da mesma. Para variar, a novela tem a figura de um homem, Amadeu (Genézio de Barros), que parece ser uma pessoa mais esclarecida apoiando a relação, que é o pai da moça em dissonância com a figura da mãe que parece superprotetora e um tanto desequilibrada. Tem alguma surpresa na caracterização do papel da mãe ser este e o do pai aquele? Não né?

Ao que parece o autor Walcyr Carrasco esta chateado com o personagem de Linda, pois o autismo dela deveria ser algo “bem leve”, para que fosse possível a mesma manter um relacionamento amoroso, mas a interpretação da atriz levou a doença a um grau muito maior, que torna um romance para a mesma algo inviável, inclusive, fala se num possível corte da personagem. O problema é: Já está incutido na cabeça das pessoas que Linda, mesmo com o grau de autismo demostrado pode ter um romance e que ele deve ser não só apoiado mas também incentivado pelos familiares.

Em conversa com Raquel Ribeiro Bittencourt, mãe de um rapaz de 28 anos, autista, que é atendido na mesma associação onde à atriz fez laboratório para elaboração da personagem, (Associação caminhos para Vida-ACV- em Florianópolis), a mesma diz que:

”A atriz que vive a Linda na novela, Bruna Linsmayer, fez a composição do personagem na nossa associação (Associação caminhos para Vida-ACV- em Florianópolis). O autor construiu um personagem absolutamente fictício. Autistas não são assim, embora exista uma modulação da manifestação do autismo de uma pessoa para outra que compromete mais ou menos a sua capacidade de interagir. Os autistas tem muita dificuldade de estabelecer uma conversação fluente, lógica, coerente com o contexto em que ocorre. Na maioria das vezes, a fala é desconectada, pois a sua percepção da realidade é muito diferente. Vejo que o rapaz que se apaixona por ela, está encantado com a sua beleza apenas. Autista como retratado na novela, só em novela.”

Pergunto a ela se ela entende que esta caracterização do personagem é um desserviço para a conscientização das pessoas a respeito do autismo e pode levar homens mal intencionados a abusar de mulheres com autismo ou outras disfunções, ao que ela responde:

“Sim, entendo isso, remete à pedofilia. pois embora adultos no corpo, a maioria dos autistas permanece criança no discernimento. Não têm malícia e são indefesos. O psiquiatra de meu filho sempre nos alertou para a vulnerabilidade que o autismo propicia.”

É normal vermos em novelas globais o machismo ser disseminado, e é feito com tanta categoria que muitas vezes nos vemos torcendo pelo lado errado. É assim que a ideologia é passada é naturalizada sem que se perceba. A mãe de Linda esta cheia de razão em não querer o relacionamento e considera-lo abusivo. Mesmo que não saibamos nada sobre autismo, uma breve consulta à legislação, a advogada e militante feminista, Samantha Pistor, nos esclarece que:

“Pra começar, a tipificação que usaram para prender Rafael não é atual. O tal termo “sedução de incapaz” é tão errado que dói na alma. O atual Código Penal tirou este texto e hoje usa “crime sexual contra incapaz”. Ok parece tecnicismo barato, mas quando você lê a norma entende que o seduzir é muito mais brando que cometer um crime sexual propriamente dito.

E o artigo é bem claro com relação a isso:

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:

Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009).

 Com relação à Linda: ela é uma incapaz e não pode, a priori consentir, e o que o Rafael fez se enquadra no artigo 217-A. O problema é que o ato dele, de beijar uma moça em público, dificilmente seria visto como uma tentativa de transar com uma incapaz ou se aproveitar dela. Ainda, o fato de a autista ter se mostrado receptiva (yep, eu sei que isso é uma forma de culpar a vítima) e o fato de o rapaz frequentar a casa dela, dificilmente cairia numa representação e muito menos numa prisão em flagrante. Aplica-se o princípio da insignificância nesse caso e provavelmente ele não poderia mais se aproximar da moça.

E as cenas me incomodam também.

Eu não quero ser capacitista e estigmatizar uma pessoa com deficiência mental. Só que, por mais que eu analise a coisa friamente, não consigo deixar de ver uma relação de poder entre um capaz e uma pessoa incapaz. A Linda poderia se envolver perfeitamente com alguém com as mesmas limitações que ela que eu não veria problemas. E eu acho que com o consentimento dos pais, acompanhamento psicológico e uma constante vigilância sobre o cara, o relacionamento poderia, mas assim, poderia dar certo. E isso dependeria do caráter do moço, que está numa situação de poder do que da moça em questão. Enfim, acho que uma coisa é não querer isolar e estigmatizar pessoas com deficiências. Outra coisa é fingir que numa situação dessas, não existe alguém mais forte e uma parte MUITO mais frágil.”

O intuito deste texto é deixar claro o perigo que é a imagem irreal das pessoas com autismo passada pela novela e o quanto isso pode ser nocivo, ou aumentar ainda mais o problema de abuso de pessoas incapazes, sobre a bandeira do romantismo e do amor romântico.

De forma alguma a posição expressa aqui é capacitista, pessoas incapazes não devem ser postas numa bolha de proteção ou segregadas da sociedade sendo obrigada a conviver apenas com incapazes, é necessário que sejam incluídas, mas também é necessário deixar claro que num relacionamento amoroso e sexual, onde uma das partes detém não só a plenitude das suas faculdades mentais mas também a capacidade de gerir a casa, as finanças e tomar as decisões do casal, deixar rolar sem acompanhamento trata se de  negligência.

Na trama o pai de Linda explica a sua mãe que uma dia eles não estarão mais aqui, que seria bom ela envolver se com alguém que pudesse cuidar dela, que os irmãos da moça, não cuidariam dela com o mesmo zelo que eles. Esta passagem deixa muito claro que o pai deseja que Linda seja tutelada pelo parceiro, sendo assim, fica impossível não notar a relação de poder que se estabeleceria neste relacionamento.

Não é só porque o “capaz” é mais “esperto”, mas porque ele tem os poderes de mando, gestão, decisão, e o incapaz não. Um incapaz, dependendo do nível da doença não pode assinar contratos, ter conta no banco, praticar atos sem o acompanhamento de um capaz, gerando assim uma relação de poder, do capacitado para com o incapaz, e uma relação de poder que sem intervenção de terceiros, não acabará, podendo inclusive perpetrar violências físicas, emocionais e psicológicas, sem que o incapaz tenha condições de libertar-se.

Bióloga,amante de felinos, Gorda, Feminista, Gayzista, Feminazy, Esquerdopata Revolucionária, Marxista, Trostskista, luxemburguista e Kollontaista.

GASLIGHTING: Alguém está tentando fazer você enlouquecer?

Mais uma palavra para nosso Dicionário Feminista: GASLIGHTING

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“De vez em quando eu penso em todas as vezes que você me ferrou, mas me fazia acreditar que era sempre algo que eu tinha feito”. Kimbra canta isso na música “Alguém que eu costumava conhecer” do Gotye. Na psicologia este fenômeno é chamado “Gaslighting”.

O Objetivo de quem promove este tipo de violência emocional é remover a credibilidade da parceira, atribuindo suas queixas e desconfianças a uma psicose, desta forma não só ela mesma vai crer que é louca, mas todos ao seu redor também. Gaslighting é usado para se referir a qualquer tentativa de fazer outra pessoa duvidar de seu senso de realidade.

O agressor levanta informações falsas com a intenção de causar duvida na vitima. A vitima passa a duvidar de suas próprias memórias, percepção e sanidade. As formas de apresentação desta agressão podem ser…

1-   A simples negação por um agressor que os incidentes abusivos anteriores já ocorreram;

2- A realização de acontecimentos bizarros por parte do agressor com a intenção de desorientar a vítima.

Gaslighting significa “fazer alguém enlouquecer”. E com esta tática de desmentir as memórias do outro, é bem fácil mesmo fazer isso, uma modalidade de culpabilização da vítima.

“Ele mentia patologicamente, parecia estar encenando com perfeição uma trama, e mesmo em situações que eu tinha certeza da verdade, enquanto ele tentava me convencer, eu chegava a acreditar nele e culpar-me por estar acusando ele, momento depois da conversa eu me sentia confusa, como se a minha verdade não fosse tão verdade, como se os fatos não provassem mais o que eu sabia”. (Eduarda)

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“Enquanto eu o interpelava a respeito de uma situação de traição ele me disse que eu estava ficando doente de tanto ciúmes, que eu estava paranoica, que eu… estava enlouquecendo e precisava de ajuda psicológica urgentemente, comecei a achar que era verdade, que estava ficando louca. Não fosse alguns dias depois uma situação que comprovasse a traição dele, eu talvez estivesse ainda pensando que estava desequilibrada.”  (Eduarda)

Com certeza alguns leitores e leitoras ao ler este texto dirão: “Ah, mas isso não é especificamente uma violência machista”. Não, uma mulher pode fazer a mesma coisa, mas levando se em consideração a opressão machista sobre a mulher, quem esta em maior chance de ser vitima?

Em abril de 2012 surgiram denuncias de estupro contra militares nos Estados Unidos. Lembram se? Se não, podem ler aqui.

Uma das mulheres é Schroeder que relatou que um companheiro da Marinha a seguiu até o banheiro, em abril de 2002. Ela diz que, em seguida, ele deu um soco nela, arrancou as calças dela e a estuprou. Quando ela relatou o que aconteceu, a um oficial superior, ele rejeitou a alegação, dizendo: “Não venha reclamar para mim, se você teve sexo e mudou de ideia”.

Stephanie Schroeder, Anna Moore, Jenny McClendon e Panayiota Bertzikis foram às mulheres que levantaram as denuncias e para serem desacreditadas e com isso protegerem os homens que cometeram tal crime, foram diagnosticadas com transtorno de personalidade e consideradas inaptas para continuar no corpo de fuzileiros.

“Eu não sou louca, eu sou realmente normal.” (Schroeder)

“Lembro-me de pensar que isto este diagnóstico era um absurdo, completamente ridículo Como eu poderia ser emocionalmente instável? Estou perfeitamente lúcida, especialmente considerando tudo o que aconteceu”. (McClendon)

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Percebam como esta prática é extremamente conveniente, desacreditar mulheres, catalogá-las através de diagnóstico de terem algum grau de psicose, e livrar se delas sem precisar ir a fundo às investigações e punição dos culpados, que “pasme”: São homens.

Robin Stern, autor de O Efeito Gaslight, diz que sinais de que você pode ser vitima de gaslighting incluem constantemente perguntar se a si mesmo “estou muito sensível?” Como relata Eduarda, “Todas as nossas brigas eu pensava comigo mesmo: ‘Devo estar de TPM.’ Por que no final de cada briga eu me culpava e achava que estava errada, ele sempre tinha razão”; Inventar desculpas para amigos e familiares para justificar os comportamentos do seu parceiro, outro sinal é a ausência da capacidade de tomar decisões sozinhas como relata Eduarda “Ele cuidava das finanças, meu salário ficava todo na mão dele, por que eu não acreditava que era capaz de gerir o meu próprio dinheiro, quando me empoderei e resolvi tomar de volta esta responsabilidade para mim ele fez chantagem dizendo que eu não confiava nele, foi muito difícil tomar de volta esta tarefa de gerir meu próprio salário, por que eu me sentia culpada, sentia que estava sendo ingrata com ele.”

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Se você se reconhece nesta situação, procure ajuda de um profissional, Gaslighting é uma opressão poderosa, e não é fácil superá-la sozinha.

 *Eduarda é um nome fictício de uma seguidora que preferiu manter se anonima.

  1. Referência: Gass, G., & Nichols, W. (1988). Gaslighting: A síndrome marital Contemporânea Terapia de Família, 10 (1), 3-16 DOI: 10.1007/BF00922429
  2.  Rape victims say military labels them ‘crazy’ http://edition.cnn.com/2012/04/14/health/military-sexual-assaults-personality-disorder/index.html

Por: 

Verinha Dias, bióloga, amante de felinos, casada, gorda bem comida, gayzista, feminazy da esquerda revolucionária, Marxista, Leninista,Trostskista e Morenista. Profundamente convencida de que ser radical é ir as raizes do problema.

E você Cara Pálida, conte nos sobre seus privilégios?

 Sou Branca…

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Quando nasci meus traços estavam de acordo com as características da minha cor, nunca disseram aos meus pais que eles deveriam fazer algo para modificar estas características, afinal de contas eu havia nascido branca…

Quando era criança, sempre elogiaram meu cabelo por ser liso e escorrido, nunca me disseram que eu precisava fazer algo com ele para que ele fosse mais crespo ou mais enrolado, ou mais qualquer outra coisa, ele estava bom do jeito que estava.

Lá no Paraná, em Londrina, cidade onde eu nasci minha família não era a única família branca, mas na mesma rua, no bairro inteiro, existia apenas uma família negra;

Nunca disseram a minha família que nós não deveríamos morar ali naquela região de Londrina por sermos brancos;

Nunca disseram aos vizinhos negros que não deveriam ser nossos amigos, por que afinal de contas éramos brancos;

A cada aniversário da minha infância, eu ganhava uma boneca (mesmo odiando) era fácil achar uma que se identificasse comigo por que todas eram brancas;

Nunca fui impedida de ser amiga de alguém por que sou branca e amizade gera intimidade e alguém poderia acabar apaixonado por mim, e não seria bom casar se com uma… Branca;

Desde a infância nunca fui parada por policiais, nunca me confundiram com “pequenos infratores” ou “menores de rua” por afinal eu sou branca.

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Na sala de aula dos primeiros anos escolares nunca nenhuma professora ou professor me chamaram de “Sua branca burra”;

Conforme fui avançando nos estudos, eu nunca me vi como única branca na sala de aula e alias em muitas séries que frequentei, só existiam brancos na sala de aula.

Durante todo o ensino fundamental e médio apenas dois professores não eram brancos;

Nunca me chamaram de “Sua branca” como se isso fosse algo ofensivo;

Nunca apanhei por ser branca;

Nunca fui ridicularizada por ser branca;

Nunca me disseram que sou incapaz ou inferior por ser branca;

Quando eu era adolescente, ouvia os garotos dizendo que mulheres negras eram mais “quentes” dos que as brancas. Não, eu nunca fui hipersexualizada; Depois me tornei adulta e continuei ouvindo isso, não mudou…

Na vida adulta quando entrei no mercado de trabalho, nunca me pediram para modificar minhas características de mulher branca para garantir meu emprego;

Ao atender o portão da minha casa ou casa de amigos, nunca me perguntaram se eu era empregada;

Ao visitar amigos, nunca me pediram para entrar pelo elevador de serviços ou área reservada a funcionários.

E você cara pálida, acha que não é privilegiado mesmo?

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Falar sobre privilégios pressupõe situações grandiosas, não imaginamos que existem varias situações todos os dias durante todas as nossas vidas que nos fazem privilegiados e que sequer notamos que elas existem. O privilegiado sozinho não consegue identificar se como tal, pois o único mundo que ele realmente conhece é o dele, é necessário um choque de realidade, mas não daquele que você vê na televisão no noticiário e depois de menear a cabeça e dizer que sente muito, volta a sua vida normal e privilegiada, um choque de realidade daqueles que você, como em um filme de ficção, pode trocar de pele com o outro e começar a viver a vida com ele vive, sem seus privilégios. Não é impossível. Sentir o drama na outro é ter empatia por ele, e isso todos nós somos capazes.

Por que não fazemos então?

Por que para o começo desta viajem pelo mundo de opressão que o outro vive é necessário reconhecer se privilegiado, e poucos estão dispostos realmente a fazer isso, poucos querem enxergar esta realidade, mesmo por que constata-la, requer a ação de aceitá-la apoiado em uma ideologia de ódio ou renegá-la e ao fazer isso, renegar também todos os seus privilégios.

Reconhecer se como privilegiada(x) não significa  concordar com um sistema que naturaliza o tratamento diferente entre seres humanos, não significa  concordar com o preconceito e discriminação que os outros seres humanos sofrem, significa que eu tenho consciência que este tratamento dados a eles e não é dado a mim, me privilegia, e que mesmo sendo privilegiada eu abro mão de tudo isso em prol de uma sociedade igualitária.

Verinha

Eleonora Menicucci – A omissão do passado feminista

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Com um forte histórico na luta feminista, foi empossada em 2012 como ministra para a Secretaria de Políticas para as Mulheres. Encampou lutas principalmente no que tange os direitos reprodutivos femininos, e sempre manteve abertamente sua posição pró-aborto.

Eleonora foi militante política contrária ao regime militar no Brasil, foi presa em 1971. Esteve no presídio Tiradentes com a também militante Dilma Rousseff, de quem era vizinha e colega de faculdade em Belo Horizonte.

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Companheiras de cadeia. Dilma, Eleonora, Guiomar, Cida e Rose na época em que foram presas.

Justamente pelos seu posicionamento de defender abertamente a legalização do aborto e os direitos dos homossexuais, foi muito criticada até mesmo pela  base aliada do governo, como por exemplo do presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT). Eduardo cunha, deputado federal pelo PMDB-RJ, classificou a nomeação da ministra um desastre para a imagem do governo.

A legalização do aborto foi uma medida aprovada na Conferência de Mulheres do governo, mas Dilma comprometeu em 2010 com as bancadas religiosas, durante as eleições, assinando a “carta ao povo de Deus” onde garantia que não seria alterada a legislação relativa ao aborto no Brasil.

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Inclusive o governo já concluiu que os gastos do Estado com as centenas de milhares de mulheres que ficam com sequelas por realizarem abortos clandestinos é muito maior do que o investimento necessário para realização dessa prática de forma segura nos hospitais públicos brasileiros.

Dilma sabe que as mulheres que morrem em abortos clandestinos são mulheres das classes baixas (mulheres estas que a elegeram), que não tem condições de pagar clinica de alto padrão para realização do procedimento e que mulheres ricas saem ilesas por terem acesso a este tipo de clinica, ELEONORA também sabe. Ambas sabem que as mulheres das duas classes sociais abortam, mas só uma paga com a vida.

Era função da ministra interceder argumentando com Dilma, explorando todo lado positivo da legalização do aborto, levando á compreender a necessidade de romper com este compromisso assumido com as bancadas religiosas. Está nas mãos de Dilma romper com este compromisso e limpar suas mãos do sangue de milhares de mulheres que morrem em abortos clandestinos.

MAS ISSO NÃO ACONTECEU NADA MUDOU.

Pelo contrário cada dia nós estamos à mercê de mais ataques conservadores, além das discussões acerca do aborto não terem avançado, retrocedemos gigantescamente com a aprovação na câmara de finanças do Estatuto do Nascituro. Não só nós mulheres,mas para quem se dizia defensora dos direitos dos GLBTTS, Eleonora deixou passar sem protestar o veto da presidenta Dilma para o projeto “Escola sem homofobia” aprovada pela Unesco e mais outas tantas entidades como Conselho Nacional de Psicologia.

Eleonora vem mostrando que Dilma faz escola e assim como ela tem deixado para trás a defesa de suas opiniões e trancando no passado o histórico de suas militâncias. Duas mulheres em lugares estratégicos, mulheres que poderiam mudar a vida de milhares que padecem todos os dias com a opressão machista e direitos renegados. Mas Dilma e Eleonor, elas se omitem, se calam, como se não lhes dissesse respeito nossos dramas, como se não fossem mulheres também.

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Não basta ser mulher; Não basta dizer que é feminista; Tem que lutar pela mulher e classe trabalhadora, onde estão 50% das mulheres mais exploradas. Tem que lutar pelas minorias vitimas de opressão. Mas nem todas as mulheres nos representam e estas duas mulheres estão ai para nos provar isso.

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Pró-reitora da Unifesp, socióloga e professora de saúde coletiva na universidade, Eleonora é amiga de Dilma desde a década de 1960. Ambas nasceram em Belo Horizonte. Ex-diretora da União Nacional dos Estudantes, a ministra foi companheira de Dilma no presídio Tiradentes, em São Paulo, onde ficavam as presa políticas condenadas pela ditadura militar (1965-1985).

 

Por: Verinha